quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Quem manda na situação...


Ela não pediu licença, deu uma batidinha rápida na porta e entrou como quem entra em sua própria sala com uma decisão na cabeça e cheia de atitude no corpo. O seu chefe continuou com o mesmo olhar embasbacado de sempre, não de sempre o tempo todo, mas de sempre que a via. Ela fechou a porta passando a chave e se enconstou nela por um momento fitando o homem com um ar sorridente...
Calmamente andou até a cadeira giratória e no mesmo movimento do girar da cadeira a moça dobrou as pernas e cravou seus pés na mesa do homem sabendo que estava em posição de vantagem. É bem verdade que aquele escritório era mais dela que dele por direito, todos os dias chegava mais cedo e organizava o espaço de modo que sabia encontrar alí qualquer objeto com máxima precisão, e não foram poucas as vezes que sentara na confortável poltrona do chefe sem nenhum constrangimento e ficava a imaginar a cena que ela agora fazia.
_Vejo que a senhorita já pensou na minha proposta e presumo que já sei também da tua decisão.
Ela responde olhando as unhas como se tratasse de coisa sem importância:
_ É Dr. Raul, já decidi sim e confesso que nem precisei pensar muito. Na verdade sua proposta era uma questão de tempo, caso o senhor não saiba eu sou ainda melhor lendo olhares que quando reviso os relatórios da empresa.
Com admiração e o ego explodindo de contentamento ele responde:
_ Ora Júlia, não me trate por Dr. quando estivermos a sós, assim você até põe em risco toda a autoridade que exerceu aqui desde que entrou por aquela porta. Aliás, se lê tão bem olhares já deveria tê-lo feito a mais tempo.
_ Confesso Raul que você ainda não estava pronto e me repreenderia como um ato instintivo de auto proteção.
Ele ainda mais envaidecido:
_ Então me diz que você me oferece risco? Pode me dar uma mostra?
Agora ela o encara desafiadoramente para respondê-lo:
_ Não me custaria nada vê-lo completamente despido de sua tão acostumada postura autoritária a receber ordens minhas, a esforçar-se para não deixar transparecer a sua completa falta fôlego como se não fosse para mim evidente e até interessante nossas diferenças...
Toca o telefone.
Os dois se entre olham sem  nenhum movimento por parte de ambos até que o telefone volta a tocar e Júlia que já havia pulado no colo de Raul atende:
_ Eunice eu não pedi para não ser incomodada?!
A outra voz responde do outro lado da linha:
_ Desculpe-me Drª. Júlia, é que ligaram da sua casa. A babá disse que seu filho está queimando em febre e o seu marido não está em casa.
A então Drª. Júlia desliga o telefone furiosa abre a gaveta onde fica a sua bolsa e entrega a chave do carro ao Raul acompanhada das seguintes palavras:
_Você dirige, eu estou muito nervosa, o Julhinho está com febre e a babá ligou avisando. 
Os dois saem apressados e no carro depois do susto a Júlia comenta fazendo um afago no marido:
Não se preocupe querido, depois nós continuamos a brincadeira. Na segunda feira que é quando o seu restaurante está fechado para o público.
_ Combinado então. _ Responde o Raul com sorriso nos olhos.
Nas segunda feira... Ele entra na sala de gravata borboleta e avental  como quem entra na cozinha da própria casa, enquanto ela decora desajeitadamente um prato...

PS: Continua na imaginação de cada um de vocês.

Juci Barros

domingo, 26 de setembro de 2010

Pensando sobre quando penso em você

E porque não escrevo sobre tudo é que escrevo sobre você.
Você que me olhou quando pensou que eu não via. Você que parou de me olhar quando percebeu que eu notava e esperava minha distração para voltar a mirar-me...
E porque nem tudo que percebo me interessa é que escrevo a seu respeito.
Você que agora me fala que me quer falar. Você que quer saber sobre meus interesses torcendo que teu nome conste na lista, mas como não sei o que te interessa de fato vagamente falo coisas e deixo as que calam exatamente assim...
E porque calo sobre o que me é caro aqui tenho sobre você palavras.
Você que me toca com as mãos talvez querendo alcançar o coração. Você a quem toco para me sentir viva sabendo que me toque ferve o sangue que corre em tuas veias que bombeiam um coração que não sei até onde pretendo tocar...
E porque gosto de ver falo de você com os olhos fechados.
Você que tenta falar-me coisas até que eu te interrompa tocando-te os lábios com os dedos em armadilha, ainda que carinhosa, é armadilha. Você que pretende me dizer o que qualquer mulher espera ouvir...
E porque me entrego em mistérios descrevo o que em ti pra mim é muito claro.
Um jovem que de tão comum se faz diferente. Básico, muito básico. Falta-lhe coisas sem as quais eu viveria, mas me dou a luxos  que rapidamente te fariam acreditar que não mereça...
E porque não te quero igual a tudo te dedico palavras quando ainda não arrisco te mostrar...
E porque me interesso por você apesar de ainda não perceber o que em ti me desperta construo mecanismos que me diga o que vai no que sinto quando leio as coisas que eu mesma escrevo...
E porque tenho medo de te fazer sofrer sei que sua falta me custaria muito, ainda que eu não entenda exatamente o que é para mim sua presença...
E porque te vejo quando fecho os olhos arrisco de vez em quando algumas palavras para ver-te rir e memorizar seu sorriso e quem sabe falar mais dele, de você...
E porque sei que é muito o que eu não sei de ti ainda tenho paciência para procurar mais de ti enquanto repetimos mais do mesmo, como alguém que garimpa um tesouro passeio em ti como os garimpeiros em túneis...
O que sei  sobre nós dois não é muito. Sei que não é tão bom pensar ser para alguém apenas uma possibilidade, mas se esse alguém sou eu é importante saber também que não vejo possibilidades  em um nós tão facilmente... Tento nos poupar do que pode acontecer enquanto ainda não entendo o que já aconteceu...

Se um dia eu deixar escapar as palavras que agora escrevo e elas correrem até você talvez eu descanse.
Cada vez menos consigo descansar, não é fácil dizer a alguém que não posso me entregar enquanto não me tenho, te respeito muito e não te deixarei na companhia de um corpo e só um corpo. Algumas vezes é só o que sou, cansada de pensar e sentir outrora em demasia minha alma desencontrou-se do corpo e eu ainda espero o que ou quem possa uni-los.
Eu preciso então de tempo, o tempo das sensações, e mesmo assim não há garantias pra você... nem para mim. Escrevo com lágrimas escorrendo dos olhos e ouvindo o cara que canta como se o fizesse pensando em mim(e de quem aqui já falei) e que a pouco descobri que você também se identifica com a mesma arte. Eu ouço as flautas e o violão e a voz que parece sair de um coração que está se rasgando e me sinto um pouco feliz de me encontrar um na tristeza que se faz canto.
Não planejo nem o próximo segundo, se me compreenderes me perdoará pelos dias que não poderei prometer-lhe. É como a dança que tanto me faz falta e então visto o figurino e danço só no salão vazio dos meus pensamentos, e agora entrego a minha alma ao que reclama corpo. São as duas metades de mim que me confundem enquanto na verdade deveriam se confundir uma na outra...
Agora vou induzir meu sono na esperança de que seja você o meu sonhar. O fato é que se não o amo, te respeito e admiro a ponto de querer-te amar...

"Quem andou no escuro vai ter faro e ouvir melhor. Tem direito ao descanso, vai ter férias da dor. (...) Todo encontro é cordão nos ligando ao que vai. Todo encontro é vagão de um trem que sai."
Oswaldo Montenegro

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mãos

Desde criança eu tenho a mania de olhar as mãos das pessoas e logo avalio se são feias ou bonitas. As mãos de uma pessoa dizem muito, e não quer dizer que é na mesma proporção da beleza delas. Mãos calejadas não são bonitas, mas geralmente contam a história de uma vida de muito trabalho pesado. Mãos boitas são até um luxo, mas remetem a toque macio. Mas meu primeiro impulso se olho uma mão é mesmo a beleza, se tem acessórios, se as unhas são feitas, se são fofinhas.

Quando estou com as unhas por fazer me sinto feia não importa o quanto me arrume, então toda a semana mesmo achando que perco algumas preciosas horas dou alguma atenção a elas, mas, é mercido se pensar que quase tudo que fazemos contam com as mãos, ferramentas fundamentais para a realização de tantos trabalhos.
Eu ainda olho as mãos das pessoas talvez com maior interesse que antes, seja das pessoas no ônibus, dos atendentes de qualquer lugar que eu vá, os caixas de supermecados, médicos, etc. Quando vejo mãos bonitas eu logo penso que se trata de alguém com a mesma mania que eu, e se olho de soslaio, olha lá a criatura olhando as minhas também!
Mas não há beleza maior em mãos que as do afago. E se não forem "mãos de seda" ainda assim carregam a maciez da intenção. Espero que vocês tenham nas mãos muitas história bonitas para contar!

"Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo."
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Que eu não apenas reste em lembranças

É... eu não gosto que lembrem de mim! As pessoas que lembram de mim podem até ser boas pessoas mas, são as mesmas que me esquecem. Elas não estão comigo nas horas que preciso delas, elas me deixam passar por elas quando lembram de mim...
Classifico três tipos de pessoas no "meu mundo": 
1. As que não me conhecem ( e aqui estão incluídas as que conseguem ficar indiferentes).
2. As que conhecem e não gostam de mim.
3. As que conhecem e me amam.
As pessoas que lembram de mim são as piores, elas lembram de mim porque lhes doei existência, pois quanto as que não me conhecem não tive oportunidades, e as que são indiferentes é porque não consegui existir para elas de forma que fosse significativa a ponto de terem lembranças nossas.
Eu também lembro das pessoas e isso não me faz uma pessoa ruim é claro, só não fazem delas tão boas assim. E trato aqui também de lembranças boas, de flashs. Mas lembrança não é saudade do outro, é de um tempo, é saudade de si mesmo. Lembranças me tocam, e muito. Mas eu não posso tocá-las, ainda que talvez deseje. O que eu sei é que lembrança é de qualquer coisa que foi e que eu deixei passar.
Você pode estar querendo me perguntar se não lembro das pessoas que amo, e eu respondo: Não lembro delas. Sabe por quê?

Das pessoas que amo eu não esqueço, eu as memorizo e levo comigo pra qualquer lugar. Delas eu sinto saudades de um outro jeito, é mais uma vontade de tê-las por perto em outras situações com o frescor das coisas novas que ainda não aconteceram; do sorriso que parece com os que tenho na memória mas único e completamente novo porque não é o sorriso de ontem. As pessoas que eu amo não ficam empoeiradas nas lembranças do passado, eu as projeto no meu futuro. Temo tanto que alguma delas lembre de mim...
Em datas especiais eu presenteio as pessoas com presente, jamais com lembrançinhas! Que nenhum objeto seja motivo para recordar no sentido de lembrar, que eles sejam pra afirmar uma coisa que é e não algo que foi. O que não é memória é esquecimento, as lembranças só falam do que foi esquecido. Memória é a própria existência cheia de valores.
Quanto as pessoas queridas que se foram eu também não lembro, eu nunca perdi nenhuma delas. Todos os meus amados estão vivos, mesmo os que já não moram em corpos, estão comigo mais que antes em todos os lugares porque tenho a impressão de que participam das conversas que tenho em mente sem que precise falar. Os que não esqueço não morrem jamais, pois já são parte daquilo que sou. Se por eles choro é pela tamanha presença em minha vida, ou pela dor que me toma quando percebo que não posso mais ver um sorriso fresco ou sentir o calor de um abraço mas, ao mesmo tempo percebo que fui agraciada com suas existências plenas.
Não vou esquecer nada de bom do meu dia de hoje, na verdade vou usá-lo para atropelar qualquer ameaça de um dia ruim. Eu lembro de dias ruins, nos dias bons que sempre ficam.

Não Se Esqueça deMim
Composição: Erasmo Carlos / Roberto Carlos
Onde você estiver,
Não se esqueça de mim
Com quem você estiver não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Mesmo que exista outro amor que te faça feliz
Se resta, em sua lembrança, um pouco do muito que eu te quis
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Eu quero apenas estar no seu pensamento
Por um momento pensar que você pensa em mim
Onde você estiver, não se esqueça de mim
Quando você se lembrar não se esqueça que eu
Que eu não consigo apagar você da minha vida
Onde você estiver não se esqueça de mim...

domingo, 19 de setembro de 2010

Despetalar


Quando pensei em um nome para o blog depois de decidir ter um pensei que deveria ser significativo. Uni então dois conceitos que vocês já conhecem: Compromisso e Acaso.
O Acaso é a minha vida, são toda as vidas que chegam ao plano que conhecemos; inocente e vai ganhando propósitos,  fazendo sentido a medida que vamos sentindo tudo que compõe uma vida, todos as sensações e sentimentos.
O Compromisso continua no sentido literal. É isso mesmo: Compromisso Com a Vida. Com a minha, que ela seja cada vez mais útil a medida que toca outras vidas.
Nem sempre foi assim. Quando mergulhada nas sensações e sentimentos que me machucavam quase desisti de tudo. De tudo que ainda poderia ser....
Ainda tenho dias ruins mas é assim que vejo agora, são apenas dias. Agora eu tenho mais clareza da eternidade das palavras e então aqui me coloco. Que dor resiste a eternidade?
Vejo no Acaso as possibilidades. Eu giro e sinto a diferença dos ventos em cada direção, vejo paisagens distintas ao redor de mim e sei que tenho um universo de opções e um mundo que nnão deve me assustar porque ele é o que tenho ao meu alcançe.
Ainda sou inocente para certas coisas, me confundo quando quero sentir sentimentos com os sentidos e sensações com os sentimentos. Ambos se fundem mas não nos devem confundir.
Gosto de sentir que quando digito coloco minhas digitais em quem por aqui passa, como alguém que segura carinhosamente sua mão e te conta uma história, e te fala da vida. Com seu comentário aprendo a "ouvir" um pouco mais...
Não sei se já te contei sobre quando acordo assustada ou quando não consigo dormir. Fazem vinte e cinco anos que tento entender o que devo ser aqui onde como uma flor brotei. Nem sei se ainda sou botão mas sinto que ainda falta um pouco para que o vento me leve em pétalas. Mas quero ir antes de murchar completamente, quero quando aconteça o vento espalhe também perfume.
Ainda não sinto o efeito do calmante em meu corpo cansado, mas é uma questão de tempo e entrega. Enquanto isso estou aqui a escrever linhas que me comprometam com o acaso que tenho, que me faz desejá-lo ainda mais. Ao contrário de antes cobro mais da vida, cobro dela a vida que não vejo e com o acaso ela me responde, com o acaso a vida se dá e nós duas, eu e a vida nos entregamos uma a outra.
Desejo dormir plenamente, porque quero que os sonhos me abraçem quando eu acordar, que se aliem a vontade e se façam realizações. Que os meus amores me encham de sorte, pois na minha ordem o amor é construído. O Acaso é a própria vida, sorte é o que se adquire quando nos comprometemos.
Em cada palavra triste deposito tanta ternura que no fim tenho a impressão de que o que escrevi tem muito mais haver com uma felicidade discreta e tímida que ganha espaço.
E aqui reafirmo o Compromisso que pisa no meu cansaço e unido ao Acaso me dá a possibilidade de descansar, apenas descansar...



Salve Essa Flor                                    

Num jardim sem cor,
nasce uma flor que vive só...
Vento amigo tem,
por essa flor amor maior...

Enquanto isso o sol,
com seu calor me faz melhor...

Mas existe um mal,
que ela nem perceberá...
Ervas tão daninhas por perto,
a lhe envenenar...

Se não for a ajuda de alguém..
Ela vai... claro que vai..
Despetalar...
morrer...morrer...morrer...

Ninguém quer morrer
Salve essa flor que vai morrer...

Cassiano

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

E do alto do salto...

Estou esperando uma amiga nos próximos minutos para irmos ao shopping desanuviar vendo as pessoas andando feito loucas com sacolas nas mãos enquanto tomamos um sorvetinho e rimos de alguma coisa sem importância. Mas aí enquanto me arrumava percebi que fiz a maior bagunça no quarto escolhendo roupa, sapatos e etc, e percebi quanta coisa em geral vamos acumulando sem necessidade, sem fazer uso delas. No final pego jeans mais surrado, a bolsa que me acompanha em quase todas as ocasiões e um scarpin pra dar um arzinho de sofisticação(quando na verdade queria ir de havainas), jogo um acessório ou outro pra fazer alguma diferença e todas as maravilhas novas acabam envelhecendo guardadas. Da próxima vez vou desanuviar folgando minhas prateleiras e doando algumas coisas que serviriam mais a outras pessoas que a mim... não são tantas assim, mas já me confundem e fazem tanto volume, imagine o quanto significará para quem de fato não tem opção. Acho que daqui a pouco lá no shopping inevitavelmente vou pensar nisso ao ver as pessoas consumindo desesperadamente para encher prateleiras na tentativa de esvaziar os problemas que vão em seus corações e mentes e logo saberão que ao chegarem em casa continuará a mesma coisa e mais algumas pilhas de quinquilharias que não vão usar... 

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Devo mesmo dizer então que tudo dura para sempre, que mesmo que envelhecidas e amareladas e cheias de poeira em um canto esquecido as páginas já escritas estarão lá, e digo mais; ainda que as queime o fato é que foram escritas...
                   Juci Barros
" Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos; somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos...“sem querer“.
Freud

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A saudade que me diz se fui ou não fui feliz...

...É estranho como algumas coisas acontecem, como certos sentimentos nos tomam, como o passado fica mais presente que o próprio presente em forma de saudade. Uma vontade de voltar a viver coisas que não poderiam ser diferentes, não conseguiriam ser melhores e no entanto se dissolveram nessa coisa que não se pode tocar. Quando estou com saudades  revivo tudo com riqueza de detalhes e é quase que um sonho, não fosse o nó na garganta, o aperto no peito, a agonia das mãos que querem compartilhar do que penso.

 Apesar de ter um quê de morte a saudade me desperta uma vida que fica em algum lugar de mim, uma vida de aprendizados, de erros que preciso aprender a cometê-los outras vezes. Eu escuto vozes que me agradam em momentos de saudade e elas me chamam para um lugar que não existe mais e que ao mesmo tempo é eterno na imensidão, um ponto no mapa do todo que se foi e paradoxalmente nunca mais será retirado de onde está.

Penso se sentirei saudades do momento atual e assim me transporto ao futuro e me reporto ao passado ao mesmo tempo, ambos roubam o meu presente, um presente que só vou saber se desembrulhei nos dias de arrependimento ou de recompensas, e qualquer dos dois que seja será de certo mais um dia de saudade. Eu tenho caixas de coisas que guardo sem saber exatamente por que. Eu tenho coisas que guardo na memória e apesar de estarem lá não me lembro. Eu tenho também uma mania meio patológica de fazer cadeias de lembranças a partir de uma palavra ou um movimento ou um objeto que me perturbe, fico tentando voltar no tempo e encontrar o que neles me intrigam. O problema é querer fazer alguma coisa com o a qual já fiz tudo o que poderia ser feito. Se eu tivesse algum juízo sairia quebrando todos os relógios das horas felizes, e as horas felizes não existiriam mais, seriam apenas felicidades eternas sem tic-tac de ponteiros...
Eu queria que todas as minhas saudades fossem revertidas em lágrimas, de algum modo sairiam um pouco mais de mim. Mas algumas saudades são secas e permanentes, elas ficaram em mim como manchas encardidas que não saem quantas vezes eu lave minha alma.
Algumas vezes penso se há em outros saudades de mim. Não sei se gostaria que me contassem, afinal saudade só não é virtude, ela pode ser boa e também pode ser ruim dependendo do que veio depois do momento revivido. Que idade eu teria se tirasse todos os dias ruins da minha vida? Agora eu sei porque dizem que problemas envelhecem, se ficássemos apenas com os momentos bons ainda teríamos idade de usar fraldas.
Quando observo uma criança brincando penso em como é irônico não terem consciência da felicidade que vivencia, mas seria maldade tentar alertá-la porque imediatamente daria a ela também a consciência dos dias tristes e acabaria destruindo uma felicidade inocente como são todas as felicidades.
 Foi quando recebi  orquídeas daquele rapaz que me amou sem que eu o desse meu consentimento para tanto, eu sabia da preciosidade de uma orquídea e me encantavam a beleza delas mas, àquelas eu fui indiferente; até que outro dia saí a procura de orquídeas para cultivar em meu jardim e não as encontrei... mas as do meu apaixonado logo me vieram em forma de saudade de um amor que eu permiti que morresse. Fiquei com uma dúvida esquisita desde então, eu não sei se eu queria recuperar as orquídeas ou o amor do rapaz. Fiquei a pensar o quanto somos injustos com os outros no modo em como passamos a existir para alguns que cultivam por nós sentimentos que de alguma forma conquistamos mas não estou certa se merecemos.
  Eu queria mesmo poder viver uma felicidade que fosse eterna, mas eu não posso, ninguém pode.
A saudade é prova da felicidade presente, da felicidade ausente, de que o antes de toda felicidade é morno e que o depois dela é sempre o frio.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Perfumes


Voltando ao quesito beleza exterior pensei na boa impressão que um bom cheiro me causa. O perfume passa a compor mesmo a identidade de uma pessoa, prova é a lembrança que temos de alguém pelo cheiro. Sem contar o bem danado que nos faz sentir o corpo perfumado. No ritual de higiene e beleza de todo o dia o perfume é o primeiro e também o último toque de uma produção. Você já parou pra pensar na quantidade de perfumes que coloca no seu corpo durante o dia? Pois eu já, e é uma boa lista: Sabonete, shampoo, algum creminho para o cabelo, um outro para a pele, desodorante, a própria colônia, e se falamos em mulheres a lista é bem mais vasta. 
Particularmente eu tenho certo cuidado para que haja uma harmonia entre os aromas, tenho receio de uma mistura sem nenhum critério não tenha um bom resultado final. Outra coisa que é preciso estarmos atentos é que cada fragrância tem um cheiro particular de uma pele para outra, então um perfume que de repente você acha divino em alguém pode não ter o mesmo efeito em você. Não sei se tanta preocupação com a relação cheiro e identidade é muito absurda, mas eu me interesso pelo assunto. Geralmente passo bastante tempo fiel a um perfume e se os troco é dentro de um limite. Tem alguém que não goste de ouvir o quanto está cheirosa(o)?

O "mundo" dos cosméticos é um tanto fascinante nesse aspecto, pesquisar fontes de perfume; matéria prima e fazer combinações em laboratório... olha a ciência aí! E os frascos? Vai dizer que não coleciona um ou outro visualmente incrível?! Lembro de quando era criança e ia visitar uma tia e ficava encantada olhando a penteadeira dela, uma verdadeira exposição de frascos um mais lindo que outro, e imaginem que para encher os olhos de quem admirava a coleção ela inventou de comprar corantes de diferentes cores e misturando-os com água enchia os vidrinhos, eu ficava um bom tempo parada admirando aquelas belezinhas e sonhando com a minha penteadeira em mais alguns anos tão linda quanto aquela. Essa minha tia até hoje tem o cheiro como marca, ao fim das tais visitas para a minha alegria ela sempre me presenteava com uma caixinha de sabonetes (incrivelmente cheiros por sinal) os quais ela usa até hoje e se os vejo e sinto o perfume lembro-me imediatamente dela.
Fazendo uma analogia com aromas de pratos apetitosos que nos enchem a boca d'água é fato que perfumes também despertam vontades; huuummm! Essa minha imaginação vai longe...
E vocês o que me dizem?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Todo o retorno é conseqüência de um ir... de um fazer

Recebemos aqui mais um selinho, e dedico e ofereço a todos os que aqui visitam e comentam fazendo jus a proposta do blog, o do compromisso com o acaso de hora ou outra se identificar com algo ou mesmo discordar e manifestar sua opinião, ou ainda se deixar encantar em devaneios que são tão vossos quanto meus a medida que somos parte de um todo maravilhosamente diverso, um todo no qual cada parte que aqui se encontra se esforça e tem mesmo a necessidade de se fazer parte significativa. 
Regras do selo: Responder as perguntas:







1. O que te inspira?

A vida por completo, as surpresas e o tédio, inclusive o nada.







2. Sobre o Blog da pessoa que te indicou: 

O Marquinho é um cara incrível pelo dom de escrever, pela generosidade, e o blog dele reflete todas estas 
qualidades.

* Graças ao acaso fui surpreendida no último domingo por receber em minha casa através da TV a visita de um Sr. ilustre pelo qual tenho grande admiração. Suas palavras sempre tão sábias e poéticas encheram meu coração de ternura devido a uma forma sublime de se comunicar que parecia de fato estar a falar comigo, porque tanto para o bom quanto para o ruim nós recebemos pessoas em nossos lares ao assistirmos televisão. Como já falei tanta foi minha surpresa e meu envolvimento com o meu convidado que pretendo dedicar a ele ainda outros espaços aqui no blog, mas por hora o citarei brevemente:


"A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz".
Ferreira Gullar

domingo, 5 de setembro de 2010

Entrega


Ele: Eu não te encontrei para te perder.
Ela: Já eu quando te encontrei quis justamente que se perdesse em mim e agora tenho um problema...
Ele: Qual?
Ela: De fato você me invadiu de tal modo que não existe uma só parte de mim que não esteja mergulhada em ti.
Ele: E que problema há se não tenho intenção de separar-me de você meu amor?
Ela: Eu sei que não, mas quando não estás aqui assim pertinho a dizer-me coisas não consigo olhar-me no espelho, temo tocar-me...
Ele: Normal querida, eu também sinto saudades quando estou distante, e certo medo de perdê-la.
Ela: Sim, seria normal se fosse como dizes, mas não é saudades nem mesmo medo de perdê-lo. Como estava dizendo não há parte de mim que não te tenha absorvido, de tal modo que se me olho ou me toco são também teus olhos que me cobiçam e é o seu toque que me deseja.
Ele: E o que você faz então?
Ela: Eu me amo. Me entrego; me concentro em tudo que você me faz sentir.
Ele: Quer dizer então que não precisa mais de mim?
Ela: Oh meu amor, está desapontado? Pois não o fique, claro que preciso de você, e das coisas que me falas assim ao pé do ouvido, preciso guardá-las na memória e é a você que ouço quando me amo. Não é só o que sussura, mas é o modo, o tom da sua voz. Mas a mim sim desaponta se não me entende...
Ele: Como se eu te preciso, se quero estar junto, se tenho medo de perdê-la?
Ela: Sim, me desaponta. O que faz de mim quando me dou a ti? Penso que ainda não te possuo, temo que em outros olhares e toques feche os olhos para procurar a mim, tentando suprir uma falta que não existe, já que eu não te falto nunca. Se as tuas mãos ainda não sabem tocar-te como fazem as minhas e se teu olhar não te cobiça como o meu próprio o faz, de que adianta sussurar-lhe repetidas vezes tudo que já sabes? Por tal distração, a de não tomar para si o que já te dei, corres o risco de fato de me perder.

sábado, 4 de setembro de 2010

Dois em um: Não perca a noite e ganhe o dia



Bem, começarei a movimentar um pouco em cima da proposta da nova etiqueta e vou tratar de um assunto fundamental para nossas duas faces da beleza (interior e exterior); a importância de dormir bem. Para ser franca é assunto que me aflige desde cedo porque sofro de insônia a ponto de vez ou outra recorrer a calmantes, sei também o estrago que dormir pouco acarreta a memória, ao raciocínio, assim como me incomodam também encarar olheiras profundas. Posso dizer que sou boa analisadora do assunto e tenho informações que talvez os interessem.



  • É comum ouvirmos falar das oito horas de sono por dia, na verdade trata-se apenas de estimativa já que cada organismo tem seu próprio relógio biológico, portanto, o que mede mesmo a eficácia do sono é a disposição para enfrentar o dia, eis outra questão na qual qualidade é melhor que quantidade.
  • Desde criança ouço dos mais velhos que sono engorda, mas é exatamente o contrário. Isso mesmo, dormir emagrece! Quando dormimos estamos livres da sensação de fome, por um fator hormonal o sono nos proporciona saciedade.
  • Dormir previne o aparecimento de rugas, é quando os músculos do nosso rosto atingem o grau máximo de relaxamento, inclusive ao dormir estamos livres do estresse e o organismo produz a melatonina, um hormônio relacionado a defesa de nossas células contra agressões externas.
  • Algumas boas horas de sono devolvem o brilho ao nosso olhar sabiam? Enquanto acordados os nossos olhos não param de "trabalhar" e por isso ficam secos e irritados.

Dicas para o Sono de beleza:

* Um ambiente aconchegante e com pouca luz; 
* Não ingerir alimentos muito próximo de deitar;
* Ter de preferência regularidade de horário;
* Roupas confortáveis e levemente perfumadas;

E para os que sofrem de insônia como eu?
Temos que ter um cuido ainda maior, praticar alguma atividade física  e recorrer de preferência a calmantes naturais. Já conhecemos o maracujá, alguns chás como; camomila, erva-doce, anísio estrelado que são muito eficientes, inclusive as indústrias de cosméticos cada vez mais desenvolvem produtos a base destes e de outros calmantes que podem contribuir com o sucesso das noites bem dormidas.


Durmam bem, e acordem ainda melhor!

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Beleza exterior. Por que não?


Se tem uma característica em mim que gosto da medida é o bom-humor. Isso inclui não só fazer rir como rir muito, verdadeiros ataques de riso, crises que vão além de olhos cheios de lágrima e barriga doendo, teve gente até que perdeu o bom-humor com minhas gargalhadas descontroladas, e tem gente que ri muito quando conto a respeito. Pra vocês terem uma idéia quando passa na TV algo engraçado e eu não estou presente na sala assistindo com todos alguém logo me chama e aí quando eu começo a rir parece que eu multiplico a graça da coisa e a galera se joga mesmo.

Mas o que tem vocês haver com isto?
Ah, antes de escrever o post li os últimos, alguns bem introspectivos, um ou outro mais ousadinho... de fato todos são EU de certo modo, mas não encontrei minhas gargalhadas, só uns sorrisinhos estilo Monalisa, outros meio maliciosos de canto de boca, outros meio que de fotografia, ensaiados por assim dizer. Senti mesmo que faltava alguma coisa, ou vocês acham que o Acaso não me faz boas surpresas? Pois saibam; se não faz eu dou risada do comum, do óbvio. 
Tive a sensação de talvez parecer viver cercada por estantes de livros, alguns cds e dvds e uma sapatilha jogada no cantinho do quarto. Ixi... tem tudo isso mesmo mas, também tem revista de moda e espelho e porta-jóias e um monte de creminho, e maquiagem, e perfume , e aparelhinhos para exercícios e até revista em quadrinho. Tem urso de pelúcia também e tudo que tem chave acompanha um chaveiro cheio de frescurinhas. Pois é, tem coisa mais normal?!
Boba que sou achei muito engraçado sentar aqui para escrever pensamentos e colocar uma realidade meio clichê. Bem, o fato é que não fiz distinção propositalmente das duas diferentes vaidades que me permeiam e que considero ambas importantes. Mas acho que comecei a prestar atenção quando com alguma freqüência me vi forçada a defender a importância de hábitos de vaidade estética para uma firmação da auto-estima, e o mais interessante é que meu discurso nesse sentido geralmente é direcionado a pessoas que admiro mas que de algum modo começam a sentirem-se desmotivadas em tantos outros setores de suas vidas.
O primeiro ato de beleza se faz interiormente; é o humor que tratei de início. Não penso em beleza da perspectiva de padrões estéticos mas do sentir-se bem frente ao espelho, aos olhares. Sabemos que não é apenas a aparência que faz alguém bonito(a), mas ela é um convite a conhecer o que há além do que vemos, não se pode negar a força que ela exerce, a tão velha e sempre atual atração.
Felicidade, saúde e bem-estar sempre nos remete a sorriso, e se a felicidade é o fim último da nossa existência pensamos nela como algo belo que almejamos conquistar, então que seja por completo.
Como em todas as conquistas precisamos usar de astúcia, de truques e são assim, em pequenas doses e com pequenos hábitos que garantimos arrancar o sorriso dos nossos lábios em frente ao espelho e cada vez mais olhares na passarela que temos que enfrentar todos os dias, não para sermos julgados ou apresentarmos um produto mas, para um fim em nós mesmos, para que a nossa imagem fale um pouco o que somos e porque aqui estamos.
Partindo de todas as observações feitas aqui abro aqui o compromisso com uma nova etiqueta aqui no Blogger: BELEZA TAMBÉM TEM COMPROMISSO COM O ACASO.
A etiqueta terá um post semanal e conto com a ajuda de todas as blogueiras que já contribuem com seus cantinhos lindos sobre tema tão importante e ao contrário do que muitos afirmam, na minha opinião são mais úteis que fúteis. Enquanto penso em como organizar aqui a novidade peço a todos a sugestão de temas, os quais tentarei abordar teoria e prática buscando origens históricas, abordagens psicológicas e claro; soluções e dicas práticas. Moda, cabelo, pele, corpo, visuais, boa forma e uma infinidade e coisas do tipo. Agora conta com vocês, sobre o que sugerem conversarmos então?

"Quem possui a faculdade de ver a beleza, não envelhece."
(Franz Kafka)