domingo, 29 de agosto de 2010

Cabe a cada um parte da concha que se faz duas para recordar a pérola que juntos descobrimos.

   Dedico esse post ao amigo Davi Wood como mimo em 
agradecimento as palavras de carinho sempre presentes
 e como prova do meu carinho e respeito adquirido
 ao longo das nossas conversas.

 .
E de repente descubro ser uma ameça. Uma ameaça aos sonhos abandonados, ao vazio que já o tomou, ameaço os planos de nunca mais amor. O curioso é que eu fiz tudo isto distraída enquanto resignada escrevia debruçada na mesa e envolta em meus pensamentos. Tal era minha distração que nem percebi que alguém do lado de fora abriu a janela e começou a me observar. Ele quis saber o que ia em minha mente, sobre o que escrevia e como pensava a vida. Abandonei os meus escritos por um momento e solícita resolvi responder-lhe todas as questões. Abri a porta e o convidei a entrar para facilitar a conversa, naturalmente a minha curiosidade também se revelou. Respondi, perguntei, concordamos algumas vezes e outras não. Eu defendo o que penso até que me provem o contrário, mas não vendo as minhas idéias e nem mesmo desejo que minhas crenças sejam de todos. O que me move é encontrar pessoas, e o que me comove é gostar das pessoas que encontro, visto que nem sempre ou quase sempre não acontece.
Me despedi e o convidei a voltar sempre que desejasse, pensei em aproveitar o jardim em uma próxima conversa, oferecer-lhe uma xícara de café, ou ainda conversarmos andando em volta o quarteirão. Talvez com o tempo quem sabe o mostraria rascunho de um livro ainda inacabado, quem sabe ainda seria um personagem no mesmo. Estariam lá registrados então o nosso inusitado encontro, algumas de nossas conversas e até outra situações que possivelmente poderiam ter acontecido se ele não tivesse resolvido subtrair de tudo o encanto, racionalizar demais, medir o acaso, as surpresas, o tempo que se perde quando o investimos em coisas que nos dão de retorno elas mesmas.
Eu tenho planos. Meus planos não sacrificam a minha capacidade de me encantar com um novo dia, eles não sacrificam nem mesmo a minha ousadia de abandoná-los por um outro. A vida por ela mesma me basta, ela é generosa comigo porque se transforma para que eu não queira outra coisa senão ela mesma, então tenho quatro estações, dia e noite, lugares inusitados e um número inesgotável de pessoas para conhecer caso eu assim deseje. Mas eu sei que não posso ter tudo, e nem quero. Então me concentrei em fundamentos para fazer escolhas, o primeiro é a coragem para que eu não deixe que o medo de perder seja maior que minha vontade de ganhar. 
Quando o verão chega não jogo o meu cachecol, nem meu cobertor mais quentinho, eu apenas os guardo porque o inverno voltará. Assim também é a vida e os nosso projetos para ela, em algum momento precisamos mesmo planejar um outro caminho, mas isso não nos impede de tirar um outro arquivado em alguma gaveta quando sentimos poder realizá-lo. Quando algo não dá certo, não significa que tudo esteja perdido, pode apenas não ser a hora, o momento certo.
O meu amigo estava de viagem marcada para uns meses ainda a frente, soube depois que era para um lugar onde o tempo pouco varia de acordo com as estações, lá sempre faz frio e as pessoas andam sempre elegantes em seus trajes de inverno, não há lá grandes mudanças e a rotina é boa já que as pessoas não ficam muito ansiosas, elas se cumprimentam rapidamente de maneira muito formal e logo voltam para casa para aproveitar o calor da lareira. Foi então que percebi porque o meu amigo estava distante, ele já estava tentando adaptar-se ao lugar de destino, falava com as pessoas que conhecia muito formalmente e de algum modo já agia como se não estivesse mais na cidadezinha que morava, passava o tempo alheio ao que o cercava planejando como seriam as coisas quando não mais aqui estivesse. As nossas conversas se tornaram para ele um problema assim como sentar na sala arejada da minha casa enquanto conversávamos, pois a brisa e a luz do sol que entravam o agradava, ele gostava de estar ali e sentia quando o adiantado da hora interrompia a nossa conversa. Quando voltava para casa ele refletia sobre as questões que discutíamos e planejava a continuação para o dia seguinte. Ele estava cada vez mais aqui, e cada vez menos planejando o acolá.
Passei uns dias fora a visitar parentes e não tive como avisar meu amigo, minha casa ficou trancada uma semana. Foi quando ele se deu conta que aquilo o incomodava, que aos poucos sem perceber voltara a gostar de onde vivia, que sentia saudades das nossas tardes que muito em breve acabariam para sempre quando ele partisse. Mas a tanto planejara sua ida, a tanto já era feliz em outro lugar, um lugar que já era muito real na sua imaginação assim como também era na imaginação que estava a sua felicidade. Tudo no novo destino que escolhera era tão superior, ele mesmo o seria, um estrangeiro respeitado, um profissional competente cheio de títulos e publicações, com todas as pompas e enigmas que o suntuoso mundo dos doutos reservam aos que sacrificam anos de suas vidas às pesquisas abdicando de passeios fúteis e conversas bobas acerca de céu estrelado ou coisa do tipo.
O fato é que ironicamente o sonho já havia dado lugar a realidade, ele já não estava mais aqui, ou pelo menos não queria mais estar. E a realidade, a janela da minha casa que do outro lado da rua ele observava naquele momento agora era sonho, um sonho que deveria ser abandonado, antes que assim como tanto outros virasse pesadelo. Ele pensava no risco, de ficar, de perder a passagem comprada com tanto custo e por capricho da vida que insistia em pregar-lhe peças eu não mais voltasse, ou até voltasse mas enjoasse das nossas conversas e aos poucos não o convidasse a entrar. Voltou pra casa e arrumando as malas decidiu. Decidiu fazer jus ao sacrifício de anos, as lágrimas derramadas em sua solidão, a angústia que o moveu e o encorajou a seguir um novo caminho bem maior para o qual sem dúvida ele estava preparado.
Assim que voltei de viagem abri as janelas, perfumei a casa e quem passou naqueles minutos sentiu um gostoso cheirinho de café invadir todo o ambiente, estava ansiosa para mostrar ao amigo um livrinho velho caindo aos pedaços que remendei como pude, foi o primeiro livro que li, presente da minha vó e que estava guardado no meu antigo quarto em casa de meus pais. Tinha comigo também uma revista que comprei no caminho de volta sobre a cidade que meu amigo logo iria morar, pensei que poderia auxiliá-lo. No horário de costume vi ele passar do outro lado da rua e acenei com a mão para que entrasse. Não entendi naquele momento o que aconteceu, ele levantou o olhar em minha direção, esboçou um "boa tarde" e seguiu como se ele já estivesse na outra cidade e eu fosse uma das pessoas que cumprimentava o estrangeiro enigmático que ali passava. Acompanhei-o com o olhar e antes de virar a esquina ele olhou para trás em minha direção como quem esperava que eu pedisse para que retornasse, como se eu pudesse dá-lo a certeza de que seria sempre do mesmo jeito, mas não o chamei. O encarei com ternura, um olhar de gratidão pelas horas de companhia, e desejando como se desejasse a mim mesma que ele fosse sempre muito feliz.
Entrei, me servi uma xícara de café e sentei a mesa para continuar os meus escritos. Nunca mais mais fechei a janela à tarde, quem passa observa o interior da casa e eu também descanso a vista olhando vai e vem das pessoas. As vezes ouço alguém comentar o cheirinho do café, e até saio a dar voltas no quarteirão a vasculhar minhas lembranças, lá sempre encontro o meu amigo e as nossas conversas, e quem passa e percebe a expressão no meu rosto no exato momento não tem dúvida que penso em alguém que me traz boas lembranças e que sempre...sempre será bem-vindo.
Juci Barros



"Depois do espírito de discernimento, o que há de mais raro no mundo são os diamantes e as pérolas." 

(Jean de La Bruyère)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Delírio

Pretendo olhar-te bem de perto para que você possa ler em meus olhos as cartas que meu corpo escreve em sua intenção. Depois te darei um tempo para traduzir caso ainda não entenda ou tenha esquecido  a linguagem dos instintos. Tratam-se de delírios, enquanto meu corpo arde em febre eu aperto o travesseiro como se fosse a ti que apertasse e o meu olhar é olhar de infinito; entro em um universo só meu mesmo quando em pensamentos sou invadida por ti. Pena que você não possa ver. Nada te envaideceria mais que me ver entorpecida, sem forças nem vontade para pensar.
Em segundos eu te veria novamente e faria por ti o mesmo. Para vingar-me também, mas te faria um bem enorme fugir um pouco do seu próprio controle. Então você grita com voz de alívio, de quem sofreu com a pressa de chegar. Eu te observo vulnerável e com certo egoísmo fico orgulhosa de vê-lo assim, de fazê-lo assim.
Pretendo olhar-te bem de perto e pretendo que em teus olhos hajam cartas escritas por teu corpo em minha intenção. Depois não espere, não perca tempo esperando que eu te traduza. Me faça entender instintivamente, ou melhor, não me deixe disfarçar fingindo nunca ter apertado travesseiro imaginando tua pele...
Há um lugar em algum lugar dentro nós que só podemos ir com a ajuda do outro, só podemos chegar lá quando invadimos um outro alguém, é um paradoxo, um caminho inverso. As melhores sensações do meu corpo, os meus passos mais leves, minha solidão mais doce só acontece a intenção de outro alguém que não a mim mesma, na dança com outro corpo, na total ausência de solidão quando mais que juntos formamos um só.
Não há imagem que explique, não há sensação que substitua, não há lembrança que baste. Investimos todos os nossos sentidos em encontrar alguém que nos leve novamente ao mesmo lugar, o lugar que acontece em segundos nos quais sem nenhum critério de elaboração conseguimos o efêmero movimento da perfeição.

domingo, 22 de agosto de 2010

Meu oposto de mim

Quando estou bem...
... louca.
Quando estou triste...
... racionalizo demais.
Quando tenho medo...
... grito, enfrento, encaro.
Quando falo...
... me escondo.
Quando calo...
... me exponho.
Brigo...
... amo.
Não reclamo...
... ignoro.
Quando decido esquecer...
...vivo de lembrar.
Só tenho muita vontade...
... do que já tive.
Choro...
... quando ganho.
Como ganho...  
... sorrindo.
Não fico...
... se beijo é porque já me levaram.
Não namoro...
... até agora conseguí voltar.
Não tenho metade...
... sou inteira.
Com alguma frequência caio...
... mas ainda gosto de olhar estrelas.
Quando distraída...
... surpresas.
Encontro, acho...
... descubro que sentia saudades, que procurava.
Fecho os olhos...
... me vejo.
Me sinto...
... estou abraçando alguém.
Escrevo...
... escondendo o nada que estou para revelar tudo que sou.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Interrompemos a nossa programação para a exibição da propaganda eleitoral gratuita...

A cada novo ano de eleição tenho me convencido da mudança que o nosso voto proporciona. De fato, vejo os repetitivos candidatos a uma vaguinha nas maravilhosas poltronas das câmaras e gabinetes cada vez mais bem aparentados e bem vestidos. Alguém duvida acerca das mudanças?! Não dá gente, é fato! Outra coisa interessante é acompanhar as gerações dos "bem sucedidos", pessoas "de família "que seguem a cartilha do sucesso e então apresentam-se no programa eleitoral aos montes: Fulano Filho ou Cicrano Neto. Dá gosto de ver estes meninos orgulhosos do título "filhinho do papai" e herdeiros dos investimentos da família, dos cargos públicos do papai graças aos votos também herdados e propagados ao longo das gerações dos filhos dos papais que quando muito conseguem quitar sua casinha já por volta dos sessenta anos e a confusa sensação de que a deixará como herança para os seus cinco filhos assim como o desmembramento da família visto a confusão que se dará quando da partilha.
O engraçado é que quando aparecem caras novas se candidatando, alguns que ousam conquistar um lugarzinho nos belos corredores dos suntuosos prédios e claro, no seleto grupo que é notícia nas colunas socias (onde políticos tem algo de artista, de celebridade), nós que assitimos do outro lado da telinha não conseguimos segurar a risada tamanha a falta de traquejo e carga de verdade em discursos sem muita elaboração baseados nas dificuldades sofridas por eles mesmos, mas que nós já tão acostumados sempre com mais dos mesmos acabamos achando a realidade mais ridícula que o teatrinho "nojento" costumeiro.
O resultado pouco expressivo nas urnas a respeito de candidatos com os quais talvez mais nos identificamos é a prova de que já aceitamos a condição de peças de engrenagem, nunca de donos da fábrica. Servimos com prazer e ainda aproveitamos qualquer oportunidade para mostrarmos gratidão por quem nos olha de cima. A prova disso é permitir que os figurões se auto promovam propagando imagens dos "grandes sacrifícios" que eles fazem tão resiginados como beijar nossas crianças e apertar as mãos calejadas de quem trabalha com pás e enchadas. Outro dia fiquei estarrecida quando acompanhando no noticiário o que entitulam "Dia do Candidato"  a forma enternecida como colocaram o fato de um candidato se dipôr fazer uma rápida viagem de metrô e preferir ficar em pé. Desde quando isso é uma opção para os "brasileiros comuns"?
Se tem uma coisa que aprendi é que não dá pra fugir, somos naturamente seres políticos. Não fazer nada já é fazer alguma coisa. Por isso que eu resolvi TOMAR PARTIDO (não pude evitar o trocadilho) das minhas próprias constatações, ainda que seja para aumentar a consciência de peça de engrenagem.



segunda-feira, 16 de agosto de 2010

O mundo da lua


Céu azul estrelado e uma lua imensa foi onde mergulhei meu olhar. Peguei carona no cavalo de São Jorge e desconfio que quem olhou para a lua em minha estadia por lá devido o vento que batia contra meu rosto fazendo meus cabelos esvoaçarem notou alguma diferença. A distância não atrapalhava a visão que eu tive quando olhei para baixo, pelo contrário, era como se eu usasse uma lente de aumento que me permitia olhar cada cantinho em qualquer lugar do mundo. São Jorge parecia feliz por me proporcionar tanta novidade e aproveitava também para comentar sobre coisas que via todas as noites e que se repetiam milênios afora embora com pessoas de gerações diferentes; jardins perfumados de flores novas em primaveras de outro continente e árvores cobertas de neve no outono de outro. Ele falava-me como era divertido a inversão de estações. Aonde uma hora as árvores estariam cobertas de flores, as flores do jardim desabrochariam com alguma timidez devido ao vento frio da nova estação. Toda a natureza em ciclos, assim também ele me mostrou um casal de namorados no banco de uma praça, a mesma no qual vira a tataravó da garota dar o primeiro beijo em seu tataravô, ou seja, ela "nasceu" ali e nem sabia e naturalmente alí dava continuidade às gerações.
Mas lá de cima não vi apenas coisas que se comparem pelo que possuiam de incomum. Vi situações de extremos e intrigantes opostos. Em uma embarcação muito simples um pequeno grupo de homens admirava a lua com algum respeito e certa contemplação, tratava-se de pescadores que se guiavam pelo céu. Eles tomavam dois dedos de cachaça barata para amenizar o frio e trocavam palavras entre si e sorriam. Ouvi um deles elogiar a beleza da lua e me senti envaidecida por participar daquilo. Porém, em outro canto do mundo alguns homens vestidos como executivos bebiam wiskque caro em uma espécie de varanda localizada no segundo piso de um restaurante imponente. Em certo momento um deles olhou para a lua de modo que até me encabulei, mas seu olhar era triste e vazio, ele estava concentrado em seus problemas. Os amigos estavam muito bêbados para ouvi-lo e a lua era apenas um ponto fixo em que seus olhos apontavam desacompanhados do olhar.


Antes que a tristeza daquele homem me tomasse São Jorge apontou em direção a calçada de uma casinha simples onde uma senhora olhava dois meninos brincando de bolas de gude. Sem que eu pudesse pensar nada ele me apontou a cobertura de um prédio com uma linda área de lazer, lá estavam uma senhora muito elegante vestindo Barbies com uma menininha. O santo cavaleiro perguntou-me então se eu poderia dizer o que fazia de mulheres tão diferentes muito parecidas e eu exitei responder.
_ Elas esperam seus maridos, os pais de seus filhos. Uma virá do mar e o outro de um bar, ambos precisam de alegria na chegada e afagos de mulher e filhos para encorajá-los a enfrentar um novo dia de trabalho._ Contou-me o santo.
Vi velórios e ouvi choro de criança nascendo. Vi crianças brincando de roda e vi crianças de arma na mão. Vi momentos de amor e também solidões quase eternas. Vi noite de calmaria em aldeia indígena e noite atravessada pelo tumulto em acidente de trânsito em avenida movimentada. Vi pessoas elegantes indo a igrejas e outras rezando baixinho entre um cobertor fino e um pedaço de papelão. Vi parques de diversão. Vagalumes brilhando em mata fechada e quase achei que fosse o céu ao contrário. Então como que um impulso pelo hábito levantei o olhar como quem procura o céu e vi a lua... e refiz com o olhar o contorno que me disseram ainda na infância ser São Jorge... e se alguém me olhou naquele momento certamente não entendeu o sorriso de gratidão esboçado em minha face.
Não sei se alguém acreditará na viagem fantástica que fiz enquanto olhava através da janela. Talvez digam que eu ando no mundo da lua, embora eu acredite que a lua participe do mesmo mundo que o meu.

domingo, 15 de agosto de 2010

Novo selo

Oferecido por: Vida Média

Regras:
-Colocar a imagem dos selos no blog;
-Linkar no blog que te indicou ao selo;
-Falar nove coisas sobre mim;
-Indique outros blog para ganharem o selo;


Nove coisas sobre mim:

1. Sou uma pessoa ansiosa com ares de quem tem toda a calma do mundo;

2. Uma bipolar que busca equilíbrio e auto-conhecimento nas relações com o outro;

3. Abraço todos os dias;

4. Minha vaidade está nas palavras mas não nego minha preocupação com unhas, cabelos e dentes :)

5. Algumas crises de choro bem de vez em quando e inúmeras crises de risos diariamente;

6. Trabalho = Diversão;

7. Tenho medo de solidão e barata voadora;

8. Nem um dia sem: música, café e doce.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Vice e Versa


Os olhares passaram desapercebidos, eram jovens demais para se conhecerem e não saberiam aproveitar o significado que um teria na vida do outro. Se olharam sim mas não insistiram. Talvez de algum modo já soubessem cativos um do outro. Sabiam mais que acaso, eram um para o outro o próprio destino. Se feliz? Não era hora de responder, nem de pensar, não era nem mesmo hora de olharem-se, mas era irresistível, ainda que fosse para adiar o encontro.
Aprisionaram olhares em fotografias e ao mesmo tempo apreciaram um ao outro o passado que na fotografia foi gravado e riram do futuro que ambos já percebiam. Mas ainda não, ainda não era hora de levar a sério a vida, ainda seguiriam um de cada lado. E continuavam a rirem e brincarem sobre o que viria. E ainda em fotografia gravaram também seus sorrisos e ao mesmo tempo os lábios de um viraram também objeto de contemplação do outro. Mas ambos não gostavam de encontros marcados, mas mesmo assim marcariam se não estivessem tão certos que o acaso os uniria algumas vezes até o definitivamente.
Ao ar livre ela procurava estrelas e ele andava olhando para o chão... ela decide olhar o chão e ele procurar estrelas e os olhares finalmente encontram-se e logo o sorriso toma o rosto de ambos. Se cumprimentam e ainda se evitam de algum modo. Tem algo de humano que os faz tentar evitar o inevitável e algo de divino que faz com que seja impossível consigam. Tímida ela procura outros olhares. Tímido ele não consegue disfarçar a alegria pois, o seu olhar denuncia. Mas vai cada um por um lado após uma tímida despedida.
Passearam por outros lugares, cruzaram seus olhos com outros olhares, apreciaram até outros sorrisos que ambos com incrível humor coseguiam arrancar das pessoas. Mas, agora sentiam saudades um do outro. De uma maneira que a ausência não doía, mas a presença faltava. Assim como quem não queriam um apreciava o outro em fotografia e até então bastava.
Cada um com o seu destino, um destino que vez ou outra os levava aos mesmos lugares providenciou um novo encontro. Ele nada via, e ela nada olhava, mas ela  o olhou e ele a viu e quase sem disfarçar os olhos de ambos percorriam o rosto do outro, o sorriso... Um cumprimento, meia dúzia de palavras, um leve toque nas mãos e cada um para o seu lado novamente até onde podiam porque ela deixara nele os pensamentos, e ele a seguiu com os olhos até não mais alcançá-la. Mas como não pensava em algo que não fosse ela arriscou encontrá-la fingindo coincidência, o que não funcionou. Não ficou tão triste assim, em se tratando dos dois era adiamento. Logo marcariam algo pois no caso deles encontro marcado não era regra. A regra era o encontro, pois marcar era uma circunstância.
Trocaram algumas palavras por qualquer meio de comunicação. Olharam algumas vezes mais as fotografias. Era estranho... não bastava. Agora não mais. Não se sabe quem exitou por mais tempo até finalmente combinarem algo de acordo com o relógio.
Se olharam demoradamente até que vieram os sorrisos, na verdade gargalhadas. Depois de algumas horas o silêncio veio e cada um em sua timidez torcia para que o outro a vencesse, até que fatalmente se olharam querendo cada vez mais perto e um sorria no outro, na boca do outro. Na hora pensavam em tanta coisa que tudo se confundiu e apesar de se demorarem naquele encontro de anseios, e boca e gestos não queriam nada além. Um fazia parte do tempo do outro, do tempo que perderam e do tempo que teriam e até mesmo do tempo hora um hora outro ousaria perder em alguma ausência desnecessária e teimosa que todos insistimos na curta passagem pela vida.
Depois ficaram ansiosos com tudo que descobriram. Ele sabia ser dela e vice-versa e também sabiam que era definitivo porque também era o que queriam. Mas ainda que assim fossem para sempre não era sempre assim. O tempo que antes não importava agora era impreciso e confuso; alguns dias eram muito longos e curtas eram as noites e assim os turnos se confundiam. Os sentidos também entraram em um colapso de ouvidos desejantes de uma só voz, de olhares que procuravam uma única imagem e intenções de arrancar um único sorriso... E o resto do mundo dela reclamou atenção e o mundo dele também não deixou por menos. Se desencontraram um do outro de propósito e deixaram as pistas sumirem, o que não demorou pois sempre há alguém que se encarrega de pegar atalhos e cortar caminho e atravessar pra qualquer lugar confundindo quem tem destino certo.
Hoje é para ele mais um dia sem ela e para ela um dia a menos de espera. Cada um conta o tempo do seu jeito mas se encontram nos mesmos sonhos e são parte de uma mesma realidade que se completa a cada entrega que se permitem na certeza do próximo encontro... que será logo e não acabará cedo. Ambos só querem duas coisas: o para sempre e o nunca mais.

domingo, 8 de agosto de 2010

Palavra + Ação + Inquietação + Reação = Revolução

Ainda movida pelo mesmo sentimento do texto anterior estou inclininada a fazer de opiniões ações. Nunca a palavra pela palavra nem o agir por agir. Palavra e ação são duas forças que se completam.
                 Juci Barros

"O verdadeiro revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor."
(Che Guevara)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Alô alô marciano...

Sei que já estou ficando repetitiva, mas ainda é uma reação. Pior seria (ou será) quando eu cansar definitivamente. Tá ok! Amo ler, e ver um filminho e até algumas futilidades, mas eu preciso mesmo viver as pessoas, comentar sim, mas mais que isso, construir relações, histórias, correr riscos e oferecer algum também! Não sei se já tiveram a sensação de estar diferente demais dos seus iguais ou distante demais dos seus próximos...
Sinto falta de turma com ideais, de pessoas com alguma coragem para viverem grandes acontecimentos, jovens engajados em movimentos que visem o futuro e ao mesmo tempo com um projeto de vida baseados na família. As pessoas estão esquecendo de serem importantes para si para serem o que os outros pensam ser importante. Moças e rapazes cada vez mais preocupados com as capas de suas redes sociais do que com os sentimentos que carregam. Ele para todas e ela para todos. Ninguém é o que somos enquanto ficamos tão preocupados em sermos alguém.
Procuro rodas de amigos nas calçadas, discutindo letras de músicas, questões próprias das suas vidas, a real... em vão. Um dia eu também tive a ilusão de que a net poderia aproximar as pessoas, e até pode quando elas estão fisicamente distantes mas, o que é distante para você? Dá muito trabalho ir até o outro bairro encontrar alguém quando tenho algumas dezenas de pessoas "falando" enquanto sentado aqui de frente ao monitor. Independente da idade todos vivem as mesmas coisas. Então esqueçamos os ideais, os planos, e como falar de valores então? Amor?! Não não. Agora é tudo no plural. Amores. Agora tem até fila heim! É um tal de "a fila anda" que não tem fim. Quem nunca ouviu ou até mesmo disse isso?!
Vez ou outra eu me sinto constrangida quando faço coisas que até custei a aprender e que hoje se tiver algum valor o colocam como negativo; coisas como ligar para alguém pra saber como foi o dia, ou parar para repensar  alguma situação que precisa ser melhorada. Me perguntam: Que diferença faz? Ou me encorajam: Que nada, com a vida inteira pela frente vai pensar nisso?! Ou ainda não dizem nada. Nada sentem. Quando eu aprendi a dar carinho às pessoas elas não sabem mais recebê-lo. 
É pena mas, não temos nada mais sério além das notícias trágicas em noticiários. Posso até dizer que na vida que temos levado, a única coisa realmente séria é a morte. Na vida não cabe mais a tristeza, a solidariedade sentida de fato, o encantamento que rompe as barreiras do corpo e do tempo. 
Igualdade sexual conseguimos, homens e mulheres agora são de igual valor, ou seja: nenhum. O que é bonito é para se mostrar; a todos, a qualquer um. Mas, o que é bonito? São as coisas, não as pessoas, é tudo que se pode pegar. Ops. Mas agora as pessoas não se amam; se pegam...
Eu sempre fui entusiasta da liberdade, como única filha mulher da casa fui uma adolescente rebelde e assim conquistei coisas que meus irmãos apesar de garotos não ousaram. Mas eu conquistei provando ser capaz, principalmente a capaz de reconhecer os erros e me desculpar por eles. Liberdade de sair consciente de que alguém em casa me esperava, portanto, nunca saí para fugir porque a minha família é o meu refúgio. Até hoje brinco em algumas situações que não preciso de nenhum tipo de droga para me dar coragem ou energia para viver intensamente. Ao contrário do que estão dizendo as pessoas precisam depender de outras sim para serem independentes de fato. Mas não... preferem depender de coisas que de pessoas.
Me parece que o vazio é inevitável. As pessoas estão divididas, ou são "conteúdo" (palavras e fotos) ou são forma. Pessoas inteiras são caretas, são carentes, e por gostarem tanto assim da realidade são sonhadoras, quase alienígenas.
Quanto a mim continuo tentando. Tentando agir, libertar e conservar a minha liberdade. Não a que andam exercendo por aí. Mas a liberdade de ser gente, de ser eu, de amar o outro, de sofrer de vez em quando. Eu sei que existem muitos que pensam como eu, mas a falta de engajamento fez com que perdessem a consciência política tão própria do ser humano, porque não fazer nada já é fazer alguma coisa. Precisamos defender o que acreditamos, e questionar também. Vida inteira pela frente?
Pode ser. Mas tudo que entendo de vida até agora estão dentro dos vinte e cinco anos que já passaram, e muito rápido... e felizmente não sei quantos mais terei. O agora é tudo que nos resta.
Não sou pessimista, sou realista e até reacionária. Pessoas melhores para fazerem melhor uso das coisas. Talvez eu seja um tanto exigente, mas eu não entendo mesmo como preferem sacrificar uma vida ótima por dias mais ou menos. Acreditem, muito do que coloco aqui foi aprendizado. Já conheci pessoas que me trouxeram uma maravilhosa sensação de "como foi bom ter vivido até aqui", e acho que a vida deve mesmo ser cheia de tal sensação. Assim como o Tom Jobim eu não acredito que alguém seja feliz sozinho, e que o amor é fundamental. Mas quando nossas relações não são mais fundamentadas no amor o que resta? Infelizes.
Então eu abraço e beijo e necessito colocar um sorriso no rosto de alguém todos os dias, pretendo me imunizar contra uma vida com gosto de nada. Chego em casa algumas vezes tão cansada e mesmo com a chave na bolsa toco a campanhia para ver alguém me receber e dar um beijo em seu rosto e aí pergunto: Estava morrendo de saudades de mim? Seja quem for ri muito e me retribui com uma expressão doce e feliz. Porque sabe que sou real, que estou exatamente onde quero estar e se nem lembrava de mim nas últimas horas naquele momentou sentiu que estava sim morrendo de saudade.
Na contramão ensaiam o comportamento da distância, alheios a tudo e a todos inclusive alheios de si. E eu volto ao Tom: Passam por a vida e não vivem, escutam mas não ouvem, olham e não vêem. Gostar é sinônimo de fraqueza e um monte de outros sinônimos que não fazem sentido só para não sentir. Que eu seja fraca porque eu sinto, e sinto muito, sinto tanto. Então fico observando a todos e aí sim incomoda, incomoda não poder dividir. Então eu enlouqueço e faço ligações, e mando e-mails e fico assim; cansada, pensativa e escrevo pra caramba! Costumo dizer que dou oportunidades aos que me conhecem, oportunidades de serem melhores, agradáveis, simpáticos, é uma brincadeira que vista ligeiramente sem muita reflexão parece até presunção da minha parte. mas, na verdade é só um modo e de dizer: estamos aqui e a vida é isso, o que faremos do nosso encontro? Ou então: Me julgue menos e me conheça mais, você tem tudo o que precisa; eu e o agora.
Nada me escapa, nada acontece que eu não tire proveito. As reações ruins me mostra o que não quero voltar a sentir, as boas o que quero repetir e fazer sentir também. As quedas não são de todo agradáveis, mas só depois delas é que sei quem me estende a mão e até  carrega  nos braços se preciso. Mas bom mesmo é alguém que te apare antes da queda, que te carregue pelo prazer de tê-lo(a) nos braços e enfim... de ser de fato importante, essência e presença além do que se possa mostrar.


domingo, 1 de agosto de 2010

Desafio

Desafio feito pela *lua*
Objetivo: Conhecer-me por imagens.
Minha dificuldade: Sou muito intensa e provavelmente as imagens não darão conta.

NÃO PASSO SEM:
PREENCHO-ME:

FUNDO-ME:

ENCONTRO-ME:

MINHA ESTAÇÃO PREFERIDA:

APRECIO:

APRENDO MAIS COM OS:

NÃO SUPORTO:

O QUE ME FAZ RIR: