sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Não sei sentir virtualmente


                                                                      








         Os últimos acontecimentos da minha vida fizeram-me refletir sobre o "mundo virtual". O que deveria ser uma extensão das nossas atividades, está se tornando mais real que a própria realidade. Começo a temer que talvez a tela que abrimos nas nossas casas e trabalho sejam janelas através das quais jogamos fora muito do que nos pertence em troca de uma paisagem distante ao mesmo tempo que rasa. Algumas pessoas usam o teclado como mecanismo de defesa, mas percebam a ironia... defendem-se da própria vida. As pessoas perguntam umas as outras nos sites de relacionamentos sobre o que gostam e fazem, onde frequentam;  mas eu pergunto: Em que momentos fazem isso? Penso que daqui a pouco nos livros didáticos trocarão o termo seres vivos para seres online. Os valores começam a se distorcer, deixamos uma pessoa que dizemos querida esperando para voltarmos nossa atenção àquelas que ainda falam conosco através de nicks. As pessoas e o que sentimos por elas tornaram-se descartáveis a medida que temos um número infinito de pessoas carentes ao alcance de um teclado. Outro dia uma amiga comentou que foi trocada pelo marido produzida com espartilho e tudo por uma fulana se despindo na webcam. As histórias de vida das novas gerações começam a ser contruídas no mundo virtual, uma vida sujeita a invasões, disfraçes e ofensas em graus elevadíssimos. E mais... se acontece o "milagre" do ser virtual sair da frente do computador para encontrar os amigos, bater um papo ou algo mais próximo da vida real, geralmente é só uma desculpa para algumas fotos que serão postadas nas páginas de relacionamento, as fotos são um modo de dizer: Eu existo, sou legal, tenho amigos e frequento lugares bacanas.
        Eu não sou contra as novas mídias, pelo contrário, sou usuária. Tenho msn, orkut, facebook e agora até esse espaço. Reencontrei amigos os quais havia perdido o contato, conheci pessoas interessantes dentre um monte de pessoas interesseiras, e o melhor de tudo é que tenho economizado caneta e papel com meu hobbie; escrever. No entanto, nos últimos dias descobri que tenho um orkut que eu nunca criei, tenho um namorado que nunca conheci e, como se não bastasse recebo um e-mail no qual a pessoa fala sobre um relacionamento que eu pensava tinhamos construido juntos, em tom de amargura e tentando algum descaso fez afirmações com as quais eu não concordo, sem me dar a oportunidade de olhar nos olhos, de ter uma reação imediata e de defender o que eu acredito. Quando endereço um e-mail a alguém por motivo de desabafo tenho o cuidado de estar bastante emocionada e tocada de modo positivo, penso que a tela já é fria o suficiente e que se vamos usá-la que seja para acarinhar, se fazer presente... nunca para enfatizar a distância que a falta do calor humano que a máquina não nos permite já possui. Pretendo usar os instrumentos que tenho disponíveis para unir, agregar pessoas que comigo se identifiquem, me informar sobre outros pontos de vista, mas jamais para definir e aprisionar em palavras digitadas o que já é real e palpável, o que já rompeu as barreiras do físico, porque se dirigimos ao outro palavras de denúncia, crítica ou com teor de interrogação evitando os seus olhos, traímos a dignidade dos nossos sentimentos e dos sentimentos do outro. É como alguém que por falta de coragem de de pedir a chave do apartamento a pessoa com quem o dividia, prefere trocar a fechadura... O que seria pior: entregar as chaves ou tentar abrir a porta e descobrir que a chave não serve mais?
        O teclado do computador é, e só deve ser para mim uma alternativa barata de falar com os amigos com maior frequência, porém não a única, ainda quero encontrá-los com direito a abraço, podendo ver seus sorrisos, até as brincadeiras "sem graça" de dizer besteiras para ver minha expressões. Também quero gravar nossos momentos em fotografias e postar para que saibam como meu sorriso é lindo ao lado deles. Enviar e-mails quando estiver enfrentando estágios de dormência causados por susto ou impacto na tentativa de gritar: EU SINTO! CHORO, SOFRO, ME ARREPENDO, EXPLODO DE VEZ EM QUANDO! Mas sempre o objetivo final dos meus desabafos é dizer: eu te amo; é bom saber que tenho você aqui. Me envergonharia usar as palavras por outro motivo que não fosse amar. O que quer que eu trate e pense sobre as coisas quando expresso opiniões, pesquiso informações e motivos, porque amo o que eu faço... enfim, maior prova disto é que expressar em palavras minha meditações mais íntimas foi o que escolhi fazer.
        Espero organizar minha bagunça virtual, administrar o meu tempo de modo que use mais as horas vivendo do que publicando como vivo. Desejo o meu melhor para os que me são caros, que ouçam a minha voz, vejam cada piscadinha dos meus olhinhos, segurar suas mãos, confessar meus ressentimentos ansiosa por uma retratação de preferência um longo abraço.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Formas de recomeçar

        E a vontade louca de escrever me domina assim; estou sem teclado ao alcançe e nem minha velha caneta. As idéias vão se misturando em minha mente e o texto vai se modificando graças a mania que eu tenho de adiar o necessário; penso que gosto da sensação de urgência. Não tenho a intenção de escrever um diário, mas que as minhas palavras estejam carregadas da minha relação com o mundo. No momento em que estou escrevendo me apodero da eternidade e quero tudo ao mesmo tempo, principalmente os dois lados da emoção. Faço longas pausas porque agora o tempo não existe, ouço uma canção inteira antes da próxima frase e me encanto com as conjecturas que posso fazer porque as músicas foram feitas para mim ainda que o autor não faça idéia da minha existência, mas temos o ACASO de existir em comum e tudo se explica.
        Acredito que todos entendam de escrever ainda que não escrevam, o que explica a existência dos poetas e literários. As pessoas que não escrevem de fato são para os poetas como o barro nas mãos do oleiro pois ele as reinventam em seus versos. Ao ler algo com o qual nos identificamos fazemos sempre uma nova descoberta a respeito do que somos, porém, o poeta ao escrever trata do que gostaria que fosse, e ambos; poetas e leitores se enganam mutuamente. Minhas palavras agora... descrevem o que estou pensando evitando o que eu não quero pensar e, já disse o grande poeta:" O poeta é um fingidor."


        O que digito agora já estava escrito a tempos na minha mente, acho que comecei a escrever na fila do supermercado e continuei na hora do jantar e assim o que escevo tem vida própria. Quando então uso minhas mãos para de fato dar ao meu texto um corpo é como uma catarse; eu recomeço depois do ponto final. Como diz o verso de uma canção que ouvi, é como um início depois do fim. Claro que aceito comentários ou críticas acerca das minhas palavras escritas, mas o valor das palavras está assegurado pela verdade do momento em que é usada. Como os escritores recebem títulos de imortais, sempre há tempo para recomeçar. Desejo a todos atitudes de recomeço: a leitura de um novo livro, um banho demorado, a caminhada pelo quarteirão, enfim, por ACASO estamos aqui, mas não saberemos se é por ele que permaneceremos. Agradeço ao ACASO pelo nosso encontro, mas continuarei escrevendo para que continuemos nos encontrado.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Os nossos Haitis

21 de Janeiro de 2010



     Os tremores de terra no Haiti de fato, abalaram o mundo inteiro, a tragédia ganhou espaço não só nos noticiários mas também nas conversas entre as pessoas que parecem "acordar " para a realidade. Quando digo realidade não estou sendo pessimista a ponto de achar que o mundo em que vivemos é sempre trágico; trato como realidade a solidariedade tão necessária à humanidade. Mas tudo isso me levou à uma questão intrigante: Ao unir esforços para salvar o que resta após grandes catástrofes algo nelas mesmas também é salvo graças a própria catástrofe; podemos considerar algo positivo nas tragédias?
     Infelizmente continua valendo a máxima de que precisamos sofrer grandes perdas para valorizarmos o que realmente é importante; tudo o que existe para nós só passa a existir em nós quando passa, caso contrário passamos por cima de tudo, usamos todos os nossos sentidos e esquecemos que eles deveriam ser usados para acrescentar sentimentos, que, por sua vez nao deveriam esperar uma grande ocasião para se transformarem em ação.
     Quantos Haitis temos no Brasil? Todos, sem exceção temos recursos suficientes para integrar o quadro de voluntários, já que o objetivo, ou melhor dizendo; a grande missão é salvar vidas, aliviar sofrimentos... Admiro os que morrem heróicamente, mas invejo os que vivem como heróis.

      Zilda Arns é um exemplo de heroína, morreu sim em uma tragédia e será lembrada por isso, mas viveu salvando vidas e não será apenas um nome a ser lembrado e reverenciado; Zilda Arns é modo de agir, é um legado para todos aqueles que não esperam a dor para acarinhar, que sabem que a morte é um fato inevitável a todos mas viver é uma dádiva divina que requer cuidados e se efetiva quando entendemos que a vida do próximo é o que faz a de cada um de nós plena.
     Muitas pessoas choram e sofrem soterradas em seu dramas e gostariam de ser resgatadas... algumas estão tão cansadas que se entregam pois não acreditam que possam ser resgatas... Tantas crianças aqui no nosso país esperam por um lar que os adote; tantas famílias enfrentariam filas gigantescas por mantimentos e muitos são os enfermos que sofrem em condições precárias nos nossos hospitais. Que os nossos corajosos voluntários que lá se encontram sejam para nós motivo e orgulho, mas que os que aqui se encontram sintam-se motivados a resgatar suas vítimas mais próximas, ainda que talvez assim resgatem a si mesmos.
                                                                                                                                 Juci Barros

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Não basta cantar, tem que encantar: A arte de comunicar-se com a alma

      Eis o que chamo de artista completo; o Oswaldo Montenegro abusa nas várias formas de comunicação que a arte possibilita. O cara compõe poeticamente e coloca melodias muito ricas que até dispensariam letras. Como se não bastasse ao som de flautas e cordas ele recita textos de sua autoria como poucos.
     Geralmente indico aos amigos em fase artísticamente improdutiva que ouça algo dele como inspiração. A leveza com a qual o cantor se coloca no palco sempre me convençe que inspiração tem muito haver com estar disposto. Me encanta muito ouvir as histórias que se escondem e se revelam ao mesmo tempo nas composições; sempre gostei dos contadores de histórias rs. Amores antigos, um novo amor e o desejo de que seja eterno ainda que seja em canção, declarações de amor aos amigos, enfim, poesia sobre a vida e para ela.
     Para incentivo vai aqui uma parte do show em comemoração aos 25 anos de carreira que gosto muito: apreciem sem moderação: http://www.youtube.com/watch?v=ujQoUEdXr_8&feature=related

sábado, 2 de janeiro de 2010

Valiosas pequenas descobertas

Constantemente situações nos colocam diante da pergunta sobre quem somos... posso dizer até muitas coisas a respeito mas nada responderá diretamente tal pergunta.
Se horas mais inquietos que antes, introspectivos e cheios de dúvidas, em outras pouco nos interessa pensar. Se gosto de estar aqui e não lá então fico; e ainda sem porquês lanço passos e me vejo em outro lugar. Se me perguntam sobre meus medos os tenho todos, mas se colocam a prova minha coragem também me lanço e... e luto. Estou construindo decisões... é um processo meio redundante e complexo no qual estou decidindo decidir. Sei que parece meio louco, mas no fundo é de uma lucidez tamanha porque estou ponderando agora o que não poderei adiante em posse das decisões já tomadas.
Percebo ao longo dos anos que tudo mudará algum dia; se gosto de pensar não posso abrir mão de participar ativamente das mudanças, já que algumas são involuntárias. As mudanças incluem rompimentos necessários,então, estou atenta aos gestos de afeto reais em minha direção... costumo concretizar sentimentos em fatos, ainda que talvez não tão evidente.
Uma vez conquistada não restará mais dúvida sobre o que eu sinto; afirmo que não evito que aconteça, já que gosto de sensações raras, e quebrar qualquer todas as barreirras que levem ao íntimo do meu coração é uma tarefa na qual preciso de ajuda. Só não permito que me culpem por não sentir o que não me despertam...
Então convido a todos os que se interessam por pensar, sentir, viver intensamente através das artes, escrevendo, trocando experiências , a participar desse espaço, selando então um compromisso com o acaso que chamamos viver.