segunda-feira, 28 de junho de 2010

Eclipse


Vou até à janela para esperar e assim não espero, meu olhar corre pra tão distante sem esperar que o meu corpo o acompanhe. Definitivamente ainda que queira não sei esperar e desde a infância minha simpatia por janelas. Pela porta só posso sair, é pela janela que fujo tão sorrateiramente que a própria nudez me veste, me protege como uma manta invisível.
A noite toda atormentada pensando se amanheço, se eu sobrevivo a tamanha angústia. Trancada olho apenas para a porta que me aprisiona ainda que com as chaves na feichadura. As janelas estavão também bem fechadas e coberta pelas cortinas para que a lua não me convide. Após um banho quente lembro me envolvo no cobertor e após zapear os canais da televisão programo-a para que deslige em meia hora.
Tanto cuidado e bastam os primeiros raios de sol da manha atravessar as frestas da janela para que eu esqueça do meu compromisso. Devo esperar que ele bata na porta, eu já devidamente vestida a sua espera. Tudo como planejado, como são planejadas todas as coisas responsáveis pelas esperas tortuosas.
Por isso eu tenho certeza; meu coração será tomado por assalto no momento exato em que ainda sonolenta e completamente despida serei surpreendida em minha tentativa de fuga por aquele que escalará até a minha janela sem fazer barulho. Ele provavelmente terá me observado fechando as  janelas ao entardercer e talvez esperasse a oportunidade; o dia em que eu abriria a janela para debruçada nela apreciar a lua, e então ele gentilmente me ofereceria o calor que ao contrário do sol a lua não pode oferecer. Mas não saber esperar não é o mesmo que não saber querer. A lua(eu)tão fria e alheia ao cavalheiro todo sol em seu calor persistente age de acordo com a sua natureza feminina, guardada em sonhos e consciente que tem para si o olhar de muitos. Por isso foge quando tudo é claro e quase nada é suspeito.
Eu não serei vítima de quem tomar meu coração por assalto, sempre corro o risco de ser vista da minha janela, entre olhares verei o cavalheiro, entre olhares se ele saber lê-los o convidarei. Apenas não direi uma palavra, como também não saberei o dia o qual ele virá, como já disse ele me surpreenderá. Eu sonho... ele acredita... e antes mesmo que pense em pular a minha janela eu saberei que o eclipse aconteceu...

quinta-feira, 24 de junho de 2010

A novidade é o antigo em evidência

Faz algum tempo, mas só agora sei. Olhei ao redor e estava tudo no lugar certo, só a xícara ainda suja de café esquecida como de costume ao lado da minha poltrona preferida. Eu até gostava, mas ao mesmo tempo minha visão estava cansada, mas faltava disposição pra pensar em mudanças. Fui até a cozinha com a xícara suja e coloquei na pilha de pratos empilhados na pia. Fui ao armário e peguei uma xícara de outra coleção para mais um cafezinho. Café pronto voltei à sala e quase que num impulso arrastei os móveis, pensei rápido e agi do mesmo modo. Já não era sem tempo.
Faz algum tempo, mas só agora eu sei que toda aquela maravilhosa novidade já vivia em mim, eu só precisava observar por um tempo o que me acontecia, sabor antigo em xícara nova, aconchego novo em um mesmo espaço, vida nova que sempre esteve aqui...

domingo, 20 de junho de 2010

Estar bem

Estar bem sou eu agora
Não diz nada
E pra que dizer?
Comunico
Informo
Sugiro
Esteja bem você também!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Eu, o sim e o não



Sim, eu converso comigo. Eu falo com o sol e comemoro assim que viro a esquina pequenas atitudes vitoriosas. Saio de vez em quando sem destino, com vontade de passear em pensamentos.
Não, eu não tenho medo de me decepcionar. Eu tenho medo de não viver, não tentar, não arriscar. Mas eu não corro riscos se não houver uma vontade real que me mova.
Não gosto de me demorar entre o sim e o não. O quase me angustia. O talvez me rouba o sim e o não que eu preciso.
Sim, sou uma romântica incorrigível; mas nunca pensei romantismo como defeito, então; corririgir por quê? Eu não erro quando acredito nas pessoas, elas erram quando não fazem por merecer a minha confiança. Eu não perco nada. Elas perdem alguém em quem confiar.
                                         Não, não gosto de esperar. Não posso frear a vida que acontece para aguardar a vida que eu espero que venha a acontecer. Entre o sim e o não permaneço, e se me demoro é só o tempo de lembrar algo que dignifique minhas decisões.
                                        Sim, eu quero falar bobagens. Eu quero rir do que passou e rir ao pensar em tudo de bom que virá. Quero alô de bom dia. Quero icekiss esquecida sobre o meu caderno. Quero casaco emprestado em dias frios. Apelido bobo que sobreviva bem mais que tantas coisas tidas como sérias. Lembrar de um começo sem sequer pensar na possibilidade de um fim.
                                       Não, não penso sobre o que não pode dar certo. Não acredito que seja a única a acreditar em sentimentos nobres, e portanto posso reconhecer um igual que cruze o meu caminho. Ainda vejo pessoas felizes, casais, famílias, grupos. As pessoas sempre serão capazes de viver amores.
                                       Sim, eu sonho. Mas relato sobre o real, o que acontece no mundo, ao meu redor... E sobre quem acontece em mim.


                        "Não ser amado é falta de sorte, mas não amar é a própria infelicidade."
(Albert Camus)

segunda-feira, 7 de junho de 2010