quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Quem é você? E o que somos nós?

Não bastasse tentar lembrar do que passou com riqueza de detalhes tenho que destroçar o presente para dar a nós um possível futuro.
Ninguém entende as dores do meu corpo, como se bastasse apenas tê-lo; um corpo.
Não me esforço? O que são então as leituras teimosas em vencer um memória lesada? Minhas mãos acariciando os cabelos de alguém enquanto minha cabeça lateja. Respiro fundo para não gritar. Perco a madrugada de sono sem sono. É um paradoxo minha vida, o melhor que tenho são as horas de esquecimento.
Abro a bolsinha de remédios e olho para a cartela do tarja-preta. Resisto. Não me querem assim (penso). Assim como? Em paz? E onde estão agora enquanto fico aqui em meio uma guerra sem trégua?!
Mais absurdo que meus surtos é a sanidade excessiva dos fortes guerreiros normais que talvez nunca saibam o que é um combate.



Já amanheceu, e eu dorme entorpecida. Eu vi o sol, reguei as plantas, alimentei os peixes e fiz algo na cozinha. Não esqueci a guerra, ignoro-a. Posso ser vítima de uma granada e não temo agora, e se atingida, o que importa o depois? Depois de mim é o que fica, que não mais serei eu. 
 Caminho sonolenta e alguns sentidos parecem agora mais fortes. Sinto o vento gostoso, e tenho a impressão de estar em uma dimensão encantada. Não me importo que não percebam, que me rotulem louca e drogada. Eu os amo mesmo assim e dou a eles uma presença iluminada, leve, que se orgulha largamente de ter paz, ainda que breve.

17 comentários:

Ju Fuzetto disse...

O sono é o acalento que vem sedento pedindo ajuda ao sonho.

Eu acho que nunca durmo de olhos fechados.


um beijo flor.
Encantador

La Vera Amicizia disse...

Lindo menina... um encanto...

Vondade de ninar e sonhar...

Valéria lima disse...

Quando se tem paz de espírito, todo o resto fica em segundo plano.

BeijooO*

Roderick Verden disse...

"Mais absurdo que meus surtos é a sanidade excessiva dos fortes guerreiros normais que talvez nunca saibam o que é um combate."

Gostei muito! Gostei tb da foto da moça descendo a escada, e, descaradamente, a roubei para colocar num de meus blogs, beldadedaminhavida.blogspot.com.

Beijos

Unknown disse...

Uma parte de mim já se foi, sou outro neste instante e outro serei ainda se continuo a existir ...

Abraço.

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Um texto muito profundo...temos de sonhar sempre.

Beijinhos
Sonhadora

. disse...

''É um paradoxo minha vida, o melhor que tenho são as horas de esquecimento''

A vida não é mesmo isso? oposto de uma mesma moeda, faces e faces traiçoeirs e inteligentes!
eu adorei teu espaço, amei o comentário em meu cantinho, com certeza estou seguindo.
E adorei saber que gosta da música: Bandolins. è minha preferida *-*

Desculpe-me a demora em responder, estive fora esses dias, mais estarei mais presente !

Bjs

Anônimo disse...

Olá, Juci.

Que belo texto poético!
Adorei!

Beijos, querida.

dade amorim disse...

E assim, comos outro a cada momento que passa - e cada vez mais rápido, mais fugazmente.


Beijo, Juci.

Isabelle M. disse...

Lindo, como SEMPRE! :)

beijos!

Unknown disse...

Perguntas que falam e respostas que se calam, como um recado de instantes: descubra.
Quem somos?
Apenas que somos seres mutáveis, que seguimos com os nossos trapos arrastando pelo chão. Entre tropeços e desenganos, buscando um pedaço em cada passo, entre soleiras, e vãos.
O acaso é um visitante mascarado, a esconder o nome. Ele nada revela apenas mantém a presença constante e assina um nome que não existe.

Lindo pensamento.

Obrigada pela visita.
Volte sempre!

Bjs

Livinha

Franck disse...

As enxaquecas, as dores, o isolar-se, entendo de tudo isso e um pouco mais...
Bjs*

*lua* disse...

"...leve, que se orgulha largamente de ter paz, ainda que breve."

Tão breve paz e não o bastante, dormindo!

Sempre reflexões abissais! Beijo Jú!

meus instantes e momentos disse...

um texto profundo e forte.
Gostei daqui, desse teu jeito intenso de escrever.
Maurizio

Gislaine Fernandes disse...

Oi..Adorei seu blog e que bom que vc gostou do meu!
beijos

Lara Mello disse...

Nossa gostei do conto..É fictício? Bju!

Juci Barros disse...

É bem real, apenas um pouco enfeitado com uso de licença poética.
Beijos.