quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Delírio

Pretendo olhar-te bem de perto para que você possa ler em meus olhos as cartas que meu corpo escreve em sua intenção. Depois te darei um tempo para traduzir caso ainda não entenda ou tenha esquecido  a linguagem dos instintos. Tratam-se de delírios, enquanto meu corpo arde em febre eu aperto o travesseiro como se fosse a ti que apertasse e o meu olhar é olhar de infinito; entro em um universo só meu mesmo quando em pensamentos sou invadida por ti. Pena que você não possa ver. Nada te envaideceria mais que me ver entorpecida, sem forças nem vontade para pensar.
Em segundos eu te veria novamente e faria por ti o mesmo. Para vingar-me também, mas te faria um bem enorme fugir um pouco do seu próprio controle. Então você grita com voz de alívio, de quem sofreu com a pressa de chegar. Eu te observo vulnerável e com certo egoísmo fico orgulhosa de vê-lo assim, de fazê-lo assim.
Pretendo olhar-te bem de perto e pretendo que em teus olhos hajam cartas escritas por teu corpo em minha intenção. Depois não espere, não perca tempo esperando que eu te traduza. Me faça entender instintivamente, ou melhor, não me deixe disfarçar fingindo nunca ter apertado travesseiro imaginando tua pele...
Há um lugar em algum lugar dentro nós que só podemos ir com a ajuda do outro, só podemos chegar lá quando invadimos um outro alguém, é um paradoxo, um caminho inverso. As melhores sensações do meu corpo, os meus passos mais leves, minha solidão mais doce só acontece a intenção de outro alguém que não a mim mesma, na dança com outro corpo, na total ausência de solidão quando mais que juntos formamos um só.
Não há imagem que explique, não há sensação que substitua, não há lembrança que baste. Investimos todos os nossos sentidos em encontrar alguém que nos leve novamente ao mesmo lugar, o lugar que acontece em segundos nos quais sem nenhum critério de elaboração conseguimos o efêmero movimento da perfeição.

11 comentários:

ValeriaC disse...

Muito lindo e sensual na medida, seu delírio, amiga...beijinhos...
Valéria

Eduardo Medeiros disse...

JUci, minha amiga, eu só teria uma palavra para descrever teu texto:

- UAU!!

Vitor disse...

Eu diria..."Et Voilà!"

Bj*

Anônimo disse...

Juci, vc já reparou numa coisa curiosa...

Poder se doar e cuidar com o corpo, alma e coração de uma mulher tão especial, profunda e rara como vc...

...Eis um delírio que os rasos não têm.

Ficou lindo o seu texto!

Beijos e bom fds moça!

Davi

João disse...

Um tanto excitante até que me provem o contrario... Abrçs

Valéria lima disse...

É sempre essa sede de ter alguém ao lado. Acho que desde que o mundo é mundo.

BeijooO*

*lua* disse...

Acho que esses paradoxos todos em relação ao outro, existem para que no nosso abominável egoísmo, tenhamos ainda sim a sede do outro, quando nenhuma outra água presente em nós poderia nos umedecer ... é divino essa busca pelo outro! E esse testo teu ... calamidade de bonito!!! Beijo grande Juci

Engenholiterarte disse...

Olá Ju. Adorei tudo que li. Cada dia você faz o seu blogue ficar melhor. Um grande abraço!

Renato Oliveira disse...

Muito bem escrito. Sobre a linguagem dos instintos, achei interessante relacionar que o delírio por si só é uma comunicação, ele trás uma demanda endereçada a um outro... e sem sentido aparente. E o mais curioso nisso é que podemos fazer um (bom) uso dele. :D

Abraços

Kakah disse...

muito bom. gosteii! ^^'

Bjinhuss

Heduardo Kiesse disse...

ADOREI!!!

:-)