sábado, 10 de abril de 2010

Não é só chuva que vem do céu

       
         Ela ainda não entendia aquele sentimento que a tomava, mas gostava do que sentia. Os dias de chuva sempre eram os melhores, o frio a deixava mais intimista. Em contato consigo mesma sentia muito... sentia demais. A diferença ficava mais evidente, e olhava as outras pessoas como se fossem de uma outra natureza. Sim, ela era do mesmo mundo, mas a única que conseguia passear em lugares que ninguém conhecia. Tudo a tornava especial, e só. Não chorava, chovia. Do mesmo jeito que as gotas de chuva lavavam a rua, as lágrimas purificavam sua alma. Depois da chuva o sol virá, assim como depois do choro a luz.
        As poucas pessoas que passavam com seus guarda-chuvas não a viam, estavam todos muito preocupados em chegar aos seus destinos. Ela não tinha pressa, seu olhar se perdia em meio a beleza de água tão cristalina. Não lembrava onde estivera antes dalí, e muito menos importava o que faria depois. Estava observando tudo em um lugar coberto, mas não se protegia dos respingos que te alcançavam, até gostava, e não fosse as poucas pessoas que alí passavam banhar-se-ia na chuva. Mas estava nua, era sempre assim quando chovia, não importa onde estivesse. Nua, frágil, sensível. Mas embora tremesse com a umidade, algo por dentro aquecia e logo esquecia sua nudez.

        Ela sequer notava sabia o que mudava, só sentia. Alguém se aproximava, não via, só ouvia a respiração. Era tão bom sentir, não queria acordar. Seu corpo sentia cada pensamento, cada intenção, porque era assim que o tal alguém a tocava. Anjos que se completam, anjos que não conhecem distâncias, anjos que só conhecem o melhor da humanidade e entregam-se. Sentem muito, sentem demais. O único erro seria negar suas condições de anjos. Tudo continuava igual, o cenário era o mesmo, o encontro acontecia do outro lado, do lado de dentro dela. Tudo estava certo e em paz. Agora a certeza que o sol chegará conforta porque sentiu muito, sentiu demais. Caminhará em direção ao seu destino, ou até voará se quiser. Já sabe quem irá guardar, aceita o que sente e o seu destino é divino. Não cabe a anjos julgar, por isso sente, sente demais e assim guardará alguém por quem nutre o mais nobre dos sentimentos: o amor. Um amor que não se fala, um amor que não se prova, um amor que só se sente, sente demais...

3 comentários:

Yaasmiin (: disse...

isso me lembra certa situação.
nao sei se minha cabeça relacionou certo, mas eu pensei em quando temos nas mãos um amor "impossivel" ou impededidos: nos vemos obrigados a abrir mao disso, desse amor.Porque, às vezes, o "melhor" para nós é mesmo nos abster desse sentimento.Aí entao que só a certeza que o "sol" chegará, conforta mesmo.Deus escreve certo por linhas tortas: "e o seu destino é divino".
Não sei se interpretei bem, é só o meu ponto de vista, a forma como enxerguei o seu texto, rs.

Helga Piçarra disse...

Lindo!

Também adoro chuva. É na chuva que me renovo.

Beijinho :)

Ives disse...

Nossa, sei exatamente o que vc escreve! Meus contos são parecidos com os seus. Acho lindo lindo essa forma de ver a vida! bjsss