quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Verônica decide morrer?

        Acredito que muitos saibam do que trato no presente texto apesar de ter mudado o título da obra de afirmação para interrogação. A crítica é feita especialmente ao filme já que não li o livro no qual foi baseado, não é a minha literatura favorita. Porém, como o cinema internacional produziu um filme do nosso escritor que a muito ocupa o status de best seller em vendas resolvi conferir, afim de não ser induzida às críticas preconceituosas. Como entusiasta das artes louvo a capacidade de quem conquista a atenção do público através de suas obras. Sou especialmente voltada à obras filosóficas e a um outro tipo de literatura, mas, creio que se houvessem mais horas no meu dia acrescentaria algum outro tipo de leitura. Como sempre a favor da liberdade e da leitura desejo que as livrarias sejam cada vez mais procuradas e que cada um faça o roteiro de preferência a bordo das palavras.

        Me identifiquei com a Verônica do início do filme em algumas fases da minha vida; inquietações em uma mente entre o mundo real e o das projeções, rodeada de tantas conclusões precipitadas a respeito do que poderá de vir. Passado e presente passeiam juntos em um mesmo tempo. Uma mente cheia de coisas e cheia de todas elas, a falta de sentido permeia tudo fazendo dos sonhos só sonhos... as perspectivas são as piores assim como a constatação: estou comum. A Verônica que indaga a vida e os acontecimentos, que procura algo que os fundamente é a figura do deprimido natural. As verdadeiras Verônicas que poderiam ser  Jucis possuem como principal característica a complexidade de serem simples, mas nunca simplórias. Há em nós um ligação direta entre razão e sentimentos e se essa ligação é ameaçada damos defeito; BUM... Uma crise. Portanto, Verônica não decide morrer, ela desiste de viver, o que é bem diferente. Quando a vida perde o sentido ela tem necessidade de uma outra vida, ela quer dormir para acordar para o novo, o que Verônica sente é cansaço. Insatisfação une-se ao cansaço e percebam o desespero que tal soma produz; como alguém sem forças pode recomeçar?
        A Verônica que segue no filme após a primeira cena não é a que o filme propunha inicialmente, ela poderia ter ficado estática, ou até estérica mas nunca boba, nunca vazia. Não é morte que se impõe ao deprimido, ao contrário, é a força da vida. O psiquiatra não precisa dar ao paciente deprimido a noção de finitude, não há nada no mundo que ele entenda mais que isso. A depressão é um estado de plena morte em vida, o deprimido não reage a certeza da morte... a vida que lateja nele mesmo é o que assusta e ao mesmo tempo o inquieta a ponto de fazê-lo reagir em algum momento, ainda que para tanto precise de boa orientação. O deprimido não é louco, o louco é feliz, loucos não entendem de depressão nem de nada que lhes encarcerem. A depressão são vontades contidas, são limites a serem rompidos ao explodir da vida que lateja dentro de um corpo. Não há nada mais cômodo para um "portador de depressão" que esperar a morte. O corpo está cansado, ele entende de esperar principalmente se em cima de uma cama. Saber que terá que viver é que o levará a atitudes de viver. Lembro-me ainda quando ouvi:
        _Juci fique tranquila, você sobreviverá e viverá tudo o que tanto deseja. O seu organismo não está produzindo uma substância essencial às sensações de alegria na medida que os sentimentos de alegria que você tem precisam para realizá-los. Você não quer morrer, só quer parar de sentir dor.
        Há muito mais ciência no que sentimos do que imaginamos. Se a Verônica fosse a da proposta inicial do filme teria desistido com o ultimato do psiquiatra. Verônica conseguiu sobreviver porque encontrou em alguém uma nova vida, não pelo metódo inverso do psiquiatra. Os naturalmente depressivos como a Verônica da primeira cena do filme são diferentes dos que ficam deprimidos por algum motivo. Faço parte dos do primeiro diagnóstico. A diferença entre os dois tipo de deprimido é o fato de que os primeiros tentam abraçar toda felicidade que estiver ao seu alcance pois conhecem e temem a tristeza, enquanto os outro abriram  mão da felicidade que tinham que por alguma circunstância nova com a qual não aprenderam ainda a conviver.
        Um dia sem quê nem pra quê a tristeza vem e faz morada... quando encontramos o primeiro fundamento para a felicidade começamos o processo de caçar alegrias, uma a uma voltamos a ser donos da nossa própria vida e quando nos sentimos preparados aprendemos a lembrar da tristeza como forma de valorizar a felicidade. Tomei como remédio uma prevenção metafísica; reconheço a felicidade e cada momento precioso dela eu salvo em mim e ela vai ocupando todos os espaços, aprendi uma felicidade também sem quê nem pra quê... E, se a tristeza vier ainda que sem o meu convite não encontrará espaço na minha festa, ficará sem ar e terá duas opções: ir embora ou ser contagiada por tanta felicidade que se confunda e se perca dentro em mim servindo apenas de fragmentos para minha poesia.
        A garota que vos escreve sempre teve dificuldades em falar do assunto, até descobrir que pode transformar a agressividade em coreografia, o grito em canto e o silencio angustiante em palavras escritas. Nós, os deprimidos somos feitos de um materia diferente, nem melhor nem pior que os demais, apenas diferentes. Sou meio plástica, meio elástica e os meus fragmentos se adaptam perfeitamente a pessoa inteira e intensa que sou. Um paradoxo sim, que talvez dispense as explicações, mas nunca as perguntas. Temo sim uma nova confusão(crise), mas decidi retirar dela toda lucidez emotiva que ela é capaz de deixar cada vez que a expulso. As reais Verônicas nem querem e nem temem a morte; uma vida eterna e vazia nos afligiria mais. O tic-tac do relógio só influencia a nossa vontade de vivermos mais dias felizes que tristes... quem conhece a morte da alma não teme a do corpo. Não é a incerteza do amanhã que nos aflige, são os ontens que não vivemos; e como sabemos que hoje é o ontem de amanhã o relógio só nos importa para  administrar um tempo que sabemos precioso.
        Verônica não decide morrer. Verônica decide melhorar sempre...
  

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

E Clara ainda clareia

        Temos ainda em nosso país com vasta produção musical cantores(as) que nos orgulham com suas poesias e melodias que acabam por embalar nossos dias, mas para encontrar as poesia e melodias as quais me refiro precisamos ser muito seletos, porque trata-se de uma minoria. Me pergunto quais serão as referências para os cantores que ainda ão de vir nas próximas gerações; ainda haverá poesia? Ainda cantar-se-á amores, ou a vida, ou ainda a natureza que nos cerca? Não consigo imaginar os nossos jovens curtindo hinos de pura alegria porém, com letras que façam sentido e observando no palco um(a) artista que interprete talvez até caracterizados homenages à culturas que não podem ser esquecidas. O canto existe porque a vida precisa ser cantada, mas o que haverá para se cantar quando a vida se resume a esperar o trio-elétrico passar?
        Me conforto na esperança de que ainda existam jovens musicalmente "velhos" como eu, e que as canções nos sirvam para conhecer diferentes contextos e reconhecê-los dentro de nossas reflexões e anseios. Mas toda essa introdução foi uma homenagem à saudosa Clara Nunes que nem sequer é do meu tempo e ainda assim tenho saudades, porque através da música a gerações se encontram e assim tinho o orgulho de afirmar que de algum modo a conheço. Só sinto por não poder participar de um show ou esperar uma nova canção unida a uma interpretação sem dúvida fascinante.

        Ouvindo Clara Nunes tenho a sensação de pisar na areia da praia e molhar os pés no mar e olhando as águas ao longe meus olhos se perdem docemente; e assim tenho minnha interpretação de como "é doce morrer no mar, nas ondas verdes do mar"... Ou ainda entender que "talvez venha ser infeliz todo aquele que ama pois tem o coração em chama". Bem, mas voltando aos bons cantores que temos em alguns consigo identificar a influência de Clara, como Vanessa da Mata e Jorge Vercillo, ainda bem!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A agressividade como caracterísca sentimental...

                                          
       
         Em muitas situações a sensibilidade se enconde em gestos bruscos, fortes e agressivos. Observe a dança; não há nada mais leve e delicado que bailarinos principalmente quando executam passos marcados com força, eis o que chamo de intensidade. Quando a emoção rompe a fina capa de sensatez parece que a verdade ou qualquer coisa que se aproxime dela ganha forma e movimento, você olha a expressão dos bailarinos e sem entender nehuma técnica dos movimentos se reconhece neles... são gritos silenciosos. Mas a explosão de sentimentos não pede licença, não importa se hora da apresentação e então o grito precisa ecoar até ensurdecer o barulho dentro de você, até a música começar e te a dar a certeza de que existe um chão sob seus pés e te faça querer saltar porque a leveza existe e todo ballet que valha apena é feito de momentos.
          Quando grandes sentimentos explodem é preciso "virar a mesa","cutar o pau da barraca", "mostrar com quantos paus se faz uma canoa", mandar "plantar batata" ou "catar coquinho", "fechar", "botar pra quebrar", não importa o berço porque os sentimentos são para todos e ainda que manifesto de maneira popular é o que há de mais clássico no mundo.  O que me intriga é que justamente o que faz cada um de nós um ser único no mundo é o que existe de mais universal. Podemos escolher o que fazer com o que sentimos, mas o que sentimos é independente do querer e paradoxalmente é  a nossa maior verdade.
         

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A rosa que há em mim

     A rosa é a flor de maior simbolismo na cultura ocidental. A Rosa é uma flor consagrada a muitas deusas da mitologia. Símbolo de Afrodite e de Vênus (deusa grega e romana do amor). O cristianismo adotou a Rosa como o símbolo de Maria. De acordo com o mito grego, Afrodite quando nasceu das espumas do mar, tal espuma tomou forma de uma rosa branca, assim a rosa branca representa a pureza e a inocência. Conta o mito que quando Afrodite viu Adônis ferido, pairando sobre a morte, a deusa foi socorrê-lo e se picou num espinho e seu sangue coloriu as rosas que lhe eram consagradas. Assim, na Antigüidade as rosas passaram a ser colocadas sobre os túmulos, sendo uma cerimônia chamada pelos antigos de “Rosália”. Todos os anos no mês de maio enfeitam-se os túmulos com rosas.
     A Rosa vermelha significa o ápice da paixão, o sangue e a carne. Para os romanos as rosas eram uma criação da Flora (deusa da primavera e das flores), quando uma das ninfas da deusa morreu, Flora a transformou em flor e pediu ajuda para os outros deuses. Apolo deu a vida, Bacus o néctar, Pomona o fruto, as abelhas se atraíram pela flor e quando Cupido atirou suas flechas para espantá-las, se transformaram em espinhos e, assim, segundo o mito diz ter sido criada a Rosa.
     A Rosa é, igualmente, consagrada a Isís que é retratada com uma coroa de rosas. O miolo da Rosa, fechado, fez com que a flor significasse em muitas culturas o símbolo do segredo.
     Um costume medieval era de colocar uma Rosa no teto da sala de reuniões indicando que onde houvesse a flor no teto, os assuntos deveriam ser mantidos em segredo. Logo surgiu o costume de pintar rosas no teto das salas e assim levou a decoração de muitas casas de arquitetura clássica.
     Segundo a tradição, cada cor de Rosa tem um significado, já na Alquimia representa o feminino e corresponde ao órgão sexual da mulher. A cruz sendo símbolo masculino deu origem a palavra “Rosa-Cruz”, o primeiro símbolo da ordem Rosa-Cruz.
     Na tradição Hindu, a deusa Lakshmi (deusa do amor), nasceu de uma Rosa. Simbolismo da beleza e da pureza, perfeição em todos os sentidos, na idade média a Rosa passou a ser símbolo da virgem Maria por significado de pureza. As rosáceas das catedrais góticas foram dedicadas a Maria como emblema do feminino em oposição à cruz. Os rosários originais eram feitos com pétalas de rosa. A palavra “rosário” deriva do latim “rosarium” que significa roseiral.
     Inúmeros são os mitos sobre a Rosa, em geral tem o significado do amor, seja espiritual, carnal, virginal. Símbolo da pureza a rosa possui suas propriedades não só simbolicamente, mas é aproveitada na medicina, para perfumes, culinária, entre outros atributos. A Rosa tornou-se simbolismo do amor e, por isso, muitas pessoas têm o hábito de presentear quem ama com a flor do amor.

Seu efeito em mim

Seu olhar é como uma fresta de luz que passa levemente
Tão sutil que chega a desvencilhar meus sentidos
Completamente fixo, mas um tanto tímido.

Você sabe como destilar meu encanto brevemente
Sem esconder o pretérito do seu desejo e o futuro da sua vontade
Por isso que fico assim no ápice da ansiedade em tê-lo comigo

E o que dizer do efeito do seu sorriso?
Um puro objeto estético de contemplação
Parece que consegue invadir meu ser ao seu modo
Consegue inclusive deixar um pouco de lado a razão.

Com a suavidade de alguém que canta
Com a destreza de alguém que procura
Com a astúcia de quem aguarda
Com a quietude de quem chora
Assim é você, sem medo de se revelar.

Com a leveza de alguém que dança
Com a esperança de alguém que aposta
Com a felicidade de quem conquista
Com o receio de quem não conhece
Assim sou eu, assim é seu efeito sobre mim.

(Por Ana Mércia Barbosa)

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Histórias para contar aos netos


          É com lágrimas nos olhos que escrevo, pura emoção. Pensando sobre a vida fiquei feliz por encontrar entre muitas lembranças a figura dos meus avós. Senti tanta vontade de abraçá-los, deveria fazer isso todos os dias... Tenho muito presentes os meus avós maternos, quanto aos paternos só conheci meu vôzinho que perdi ainda na infância, mas ainda guardo lembranças, minha vó paterna faleceu quando meu pai tinha apenas 5 anos de idade. Tive a grande sorte de ter na minha infância minha bisa materna mãe de minha vó, lembro tão nitidamente dela, tanto carinho comigo... dentre as manias que adquiriu com idade que fazia dela quase criança uma delas era pedir a pessoas com quem conversava agrados para a netinha (eu), me recebia com festa e assim como quem brinca com outra criança me oferecia doces escondido da minha mãe. Sou grata a todos que participaram e ainda participam da minha formação, apesar de acreditar que é um processo que acontece até o fim da vida sei que os primeiros anos são fundamentais, e muitas características emocionais são fruto do que recebi dos meus avós, inclusive o hábito de passear em boas lembranças.
          Afortunada com minha herança imaterial é que não desejo uma material, se me fosse concedido a realização de um desejo queria tê-los comigo sempre pois nada do que me deixariam seria melhor que suas presenças. Graças a minha vó adquiri o hábito da leitura e desde muito cedo aprendi a ser olhada por alguém com admiração; meu avô. Meu vô que assistia meus "shows musicais" com a maior paciência do mundo nos dias da minha infância foi o mesmo que sentou comigo muitas vezes pra discutir assuntos que ninguém poderia imaginar que eu fosse capaz de tratar: política, princípios morais, economia, o valor dos laços familiares. Em dias difíceis em que a existência já me cansava os tive por perto me mostrando que estavam muito bem dispostos a me darem o apoio e consolo, e eles apesar das marcas do tempo nunca me deixaram ver uma expressão de cansaço no esforço para me fazer feliz. Hoje sou feliz se os faço feliz porque ainda quando os acarinho sinto que nunca poderei estar a altura do carinho que recebo, parece que os avós são os maiores especialistas em cafunés.
          Infelizmente nem todos tiveram a mesma felicidade que eu, embora muitas pessoas não tenham lembranças tão doces quanto as minha porque não soberam interpretar a força do tempo nos rostos dos seus avós e os perderam completamente. Gostaria que as minhas palavras tivessem o poder da emoção que sinto agora e tocasse muitos netos... Tantos avós esperam por um afago dos seus netinhos, porque os netos não crescem e não podem dar nada além de carinho, e carinho é só o que os avós desejam. Não sei se um dia terei netos para contar-lhes histórias, mas sei que graças aos meus avós tenho lindas histórias pra contar.